(Artigo Tribuna das Ilhas - 27/01/2012)
Assistimos todos os dias a este Governo de direita
instalado na República, de ideias fixamente neoliberais, a cortar nos direitos
dos cidadãos.
É verdade que algumas das medidas de austeridade são
necessárias para honrarmos os nossos compromissos com as instâncias externas.
No entanto, a palavra de ordem na República é "Ir para além da Troika!" Pois, se já não nos bastava o
que foi imposto pela Troika, quer este Governo "ir mais além".
As metas impostas têm de ser atingidas. E hão-de sê-lo,
mas não o poderão ser à custa de mais e mais austeridade. De austeridade
desenfreada.
O Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, considera que para recuperar a confiança e regressar ao
crescimento, não basta à Europa implementar políticas de austeridade. "A austeridade como solução é [uma abordagem]
simplesmente errada" para ultrapassar a crise, disse Stiglitz numa
entrevista. Refere ainda que "O que
é necessário é impulsionar o crescimento (...)".
O peso desta Governação abate-se sobre os
cidadãos que se vêem forçados a aplicar no seu dia-a-dia, uma ginástica
financeira, que não tinham de fazer anteriormente. O poder de compra das
famílias diminuiu substancialmente. Principalmente, e infelizmente é muito
comum, quando um dos membros ativos do agregado familiar perdeu o seu emprego,
única fonte de rendimento. O poder de compra diminuiu drasticamente e as
empresas sofrem ainda mais com as consequências.
E do alto do seu descaramento vem a primeira
figura do Estado, o nosso Presidente da República (PR), afirmar que aquilo que
vai receber como reforma "quase de
certeza que não vai chegar para pagar" as suas despesas.
O Dr. Aníbal Cavaco
Silva ganha mensalmente, só em pensões, mais de € 10.000. E não acumula o
vencimento de PR apenas porque foi obrigado a escolher entre o vencimento ou as
reformas, tendo, obviamente, optado por aquele que lhe garantia um valor mensal
superior. Até
2010, e desde o início do seu mandato, que começou em 2006, ou seja, durante
mais de 4 anos, Cavaco Silva arrecadava mais de 20 mil euros por mês, pois
acumulava o vencimento de Presidente com as reformas. O que também se
esqueceu de referir o Presidente, é que os seus gastos continuam a ser apoiados pela
verba relativa a despesas de representação, que ronda os 2900 euros por mês. Ou
seja, cerca de 13 mil euros ilíquidos por mês é quanto aufere o PR. O que lhe
vale é que a sua família é muito poupada, tendo conseguido ao longo dos anos
uns euritos de poupanças para fazer frente às despesas (palavras do próprio). Porventura
estar-se-á a referir a uma das suas mais conhecidas poupanças, aquela que
rendeu num curto espaço de tempo um lucro de 140%, no banco dos seus amigos e
antigos colaboradores diretos, o BPN.
Acresce o facto de quando o atual PR deixar a
Presidência, ter direito a um gabinete com secretária e assessor da sua confiança, a um carro com motorista e
combustível para serviço pessoal e ajudas de custo para as deslocações oficiais.
Exemplo
da sua capacidade de poupança poderá ser a visita aos Açores em Setembro, na
qual se fez acompanhar de uma comitiva de 30 pessoas, entre as quais estavam o
chefe da casa civil e sua esposa, quatro assessores, dois consultores, um
médico pessoal, uma enfermeira, dois bagageiros, dois fotógrafos oficiais, um
mordomo e 12 agentes de segurança.
Conclusão: a primeira
figura do Estado português não tem a mínima noção do que se passa em Portugal!
Efetivamente a austeridade é só para alguns!
Os portugueses, e
muito bem, indignaram-se. E foi ver as redes sociais serem inundadas de alusões
a esta trágica tirada no nosso PR. Petições, grupos no Facebook e até contas
bancárias “criadas”
para ajudar o nosso pobre PR com as suas
despesas. Realmente há uma boa razão para o PR falar tão pouco: sempre que fala
ou sai asneira ou então bolo-rei!
E que dizer de Eduardo Catroga, que
participou nas negociações com a Troika, tendo dito, na altura, que os
Portugueses tinham de ganhar menos, que tinha de haver cortes nos salários e
que agora "dá o exemplo", ganhando 45 mil euros mensais, os quais
acumula com uma reforma dourada de 9 mil euros por mês. Este mesmo Sr. que
negociou a privatização da EDP e que agora, por pura coincidência, será Presidente
do Conselho Geral e Supervisão da mesma. Até figuras ilustres do PSD, como António Capucho,
dizem que é um salário "escandaloso". Marques Mendes, por sua vez,
utilizou a palavra "pornográfico"! Austeridade? Só para
alguns.
Quem me conhece sabe
que não apoio, nem faço parte do chamado mal-dizer, que hoje em dia parece
estar generalizado na nossa sociedade, mas há coisas que entram pelos olhos
dentro, e, como se costuma dizer, quem não se sente não é filho de boa gente!
Horta, 24 de Janeiro de 2012