Artigo
Tribuna das Ilhas (12/04/2013)
A semana passada foi a semana mais conturbada desde que o governo de
Pedro Passos Coelho tomou posse.
Primeiro, caiu o Ministro Relvas. Esta “cessação”, como o próprio a apelidou, foi um duro golpe para o
Primeiro Ministro, pois Relvas era o seu braço direito. Este Ministro desde o
início do seu mandato protagonizou uma série de tramas que pouco dignificaram o
seu estatuto. O mais mediático terá sido o caso da sua suposta licenciatura por
equivalência, que afinal se revelou não o ser, caso que foi entregue ao
Ministério Público e estará na origem da sua saída do governo. Mas há mais.
Suspeitas de pressões sobre jornalistas, suspeitas de ligações a espiões,
suspeitas de favorecimento a amigos e uma série de falhanços governativos,
faziam deste Ministro o mais fragilizado do governo. Diria mesmo que o Ministro
Miguel Relvas resistiu até à última. Por muito menos se demitiram Ministros no
passado. Agora sai, por fim, por falta de “força
anímica”, nas palavras do mesmo.
No entanto, não sai sem deixar um “recadinho” ao Primeiro Ministro,
dizendo no seu discurso final que foi pelo seu inigualável esforço que Pedro
Passos Coelho, foi eleito presidente do partido e de seguida eleito Primeiro
Ministro de Portugal. Nesse mesmo discurso consegue ainda elencar as coisas
boas que fez durante o seu mandato. Foi um discurso ilusório de quem vê as
coisas por uma perspetiva que não é, de todo, a dos Portugueses.
Segundo, e como já todos sabíamos, várias normas do Orçamento do Estado
foram declaradas inconstitucionais pelo Tribunal Constitucional (TC). O governo
insistiu em medidas que já se sabia seriam declaradas inconstitucionais, pois
já o tinham sido em relação ao Orçamento do ano passado. Estamos assim perante
um governo que apresenta 2 anos seguidos orçamentos que contêm normas inconstitucionais.
E noutra intervenção ilusória, vem o Primeiro Ministro dizer que se
estamos nesta situação devemo-lo à decisão do TC. Não Sr. Primeiro Ministro,
esta situação deve-se à atuação do governo, não à decisão do TC. É que, mesmo
que por vezes não se queira, vivemos numa democracia, em que pura e
simplesmente não se pode colocar a Constituição em suspenso. Este ataque ao TC por parte
do governo da República consubstancia um momento sem precedentes e lamentável
da nossa vida democrática.
Disse, e muito bem, o Presidente do TC: “É o Orçamento do Estado que tem de se conformar à Constituição e não a
Constituição que tem de se conformar ao Orçamento do Estado!” Não poderia
ser mais percetível esta afirmação.
Mal andou também o Sr. Presidente da República que perante um Orçamento
que sabia conter normas inconstitucionais, não pediu a fiscalização preventiva
do mesmo, o que fez apenas protelar uma decisão que, todos sabíamos, seria a
que veio a público. Vem agora, em comunicado na página da Presidência da
República, afirmar que este governo “dispõe
de condições para cumprir o seu mandato democrático”. Este é o governo que,
fruto das suas políticas e do caminho da "austeridade custe o que
custar", fez com que a dívida
pública crescesse de forma perigosa (93,5% em 2010 e 123,7% em 2012), que o
desemprego aumentasse desmesuradamente (10,8% em 2010 e 15,7% em 2012), que a
economia esteja a caminhar para o seu terceiro ano de recessão (PIB +1,9% em
2010 e -3,2% em 2012), com previsões para 2013 catastróficas (mais que o dobro
da quebra do PIB prevista e trimestres com 19% de desemprego), insistindo
sempre no mesmo caminho. Este é
o governo que, acima disso tudo, apresentou ainda 2
orçamentos inconstitucionais. Um governo que, para além de já ter sido alvo de
moções de censura de todos os partidos da oposição, conta também com uma forte
censura do Povo Português.
Como Paul Krugman (prémio nobel da economia) escreveu nas redes
sociais, depois de ouvir a explicação do Primeiro Ministro: "É preciso
dizer Não!"
Horta, 9 de abril de 2013
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