Artigo Tribuna das Ilhas (19/07/2013)
A crise política em Portugal precipitou-se de tal forma nas duas
últimas semanas, o desenrolar de novos acontecimentos tem sido tão rápido, o
corrupio de políticos a entrar e sair de Belém para reuniões de “salvação” é
tao acelerado, que conseguiu pôr os portugueses manifestamente tontos.
Tudo começou com a demissão de Vítor Gaspar através de uma carta na
qual admitiu que os constantes desvios orçamentais desde o início do seu
mandato, minaram a sua credibilidade enquanto Ministro das Finanças.
Seguiu-se uma escolha para o substituir na pasta das Finanças, de
alguém claramente fragilizado para assumir tal posição, tanto pelo dossier
swaps, como por se tratar da própria Secretária de Estado de Vítor Gaspar, ou
seja, que seguirá obviamente a sua linha.
No dia em que a nova Ministra tomava posse, Paulo Portas apresenta a
sua demissão ao 1.º Ministro, assumindo-a como irrevogável, note-se bem, por
não concordar com a nomeação de Maria Luís Albuquerque para a pasta das
Finanças. Episódio caricato foi aquele de Cavaco Silva a dar posse a uma
Ministra dum Governo, que há uma hora atrás, tinha acabado de ficar sem o seu
parceiro de coligação.
Muito se especulou nesta fase
sobre a continuidade do Governo. Como poderiam continuar sem o parceiro de
coligação? Iriam os restantes Ministros do CDS demitir-se? Entre o ficam e
saem, e quando pensávamos que as coisas não podiam ficar ainda menos
dignificantes, vem o 1.º Ministro afirmar que não aceitou a demissão do
Ministro dos Negócios Estrangeiros. Seria de rir, se a situação não fosse de
facto tão séria…
Entre trocas e baldrocas e mais um sem número de reuniões entre os
parceiros de coligação e com o Presidente da República, foi então anunciado que
a decisão irrevogável de Portas, deixou de o ser. Não só Portas voltou atrás na
sua decisão, sublinho, irrevogável, como ainda parecia ter conseguido mais
força dentro da coligação, passando a ser Vice-Primeiro Ministro e a liderar as
negociações com a Troika, como que colocando a Ministra das Finanças debaixo da
sua alçada. Para além disso, ficou também a coordenar as políticas económicas e
a reforma do Estado, ficando na dúvida o que restaria fazer ao Primeiro-Ministro!
Ou seja, o “amuo” durou apenas uns dias, serviu para ganhar mais poder e ainda
para colocar a razão primeira desse mesmo amuo, como sua subalterna. Parecia
então que Portas tinha conseguido levar a sua avante, mesmo que à custa de “um preço de reputação”, tal como o
próprio afirmou.
Mas o assunto ainda não ficava por aqui. O Presidente da República não
aceitou a solução apresentada por Passos/Portas e veio afirmar que é necessário
um compromisso de “salvação nacional”, no qual se entendam os 3 partidos do
arco da governação, adiantando ainda que o prazo de validade deste Governo é de
um ano.
Para culminar em beleza vem a direção do Partido Socialista afirmar que
pretende negociar com os partidos da coligação, mas ao mesmo tempo mostra-se
disponível para aprovar a moção de censura ao Governo, que será apresentada
pelos Verdes, ainda esta semana.
Da classe política espera-se coerência. Estes recentes episódios
serviram apenas para descredibilizar ainda mais, perante os portugueses, uma
classe política que parece não saber para onde quer ir. Temos um Governo que
piorou a situação do País nestes últimos 2 anos, um Governo desacreditado pelo
Povo, pelo Presidente da República e por ex e atuais membros do Governo. Um
Governo que, neste momento, não o é, visto não ter sido aceite a sua solução,
proposta ao Presidente da República, que leva Ministros ao Parlamento para
prestarem declarações quanto a pastas, relativamente às quais se demitiram. Um
Presidente da República que tanto pugna pela estabilidade, mas que desta vez
preferiu uma 3.ª via, apenas adiando o problema, ao invés de o solucionar de
vez. E uma oposição que afirma querer negociar com os partidos de um Governo em relação ao qual pretende também, e ao mesmo
tempo, aprovar uma moção de censura.
Há coisas fantásticas não há?
Horta, 16 de julho de 2013