Artigo Tribuna das Ilhas (18/05/2012)
No passado
dia 9 de Maio celebrou-se uma vez mais o Dia da Europa. Um dos pilares da União
Europeia (UE) é a solidariedade entre os Estados-Membros e entre os respetivos
povos.
Recentemente
dois países da UE foram a votos. Na França houve eleições presidenciais, tendo
sido eleito o socialista François Hollande. Todos sabemos que a França assume
um papel preponderante no figurino europeu e julgo que a eleição de Hollande
será uma lufada de ar fresco para a tão pesada austeridade que se abateu sobre
a Europa. Os tempos são difíceis, mas já todos perceberam que a austeridade
cega e desenfreada não trará nada de proveitoso para a Europa, mas sim
exatamente o contrário.
Acredito que
a vitória de Hollande virá temperar a austeridade imposta pelo eixo
franco-alemão, com medidas de crescimento económico que se revelarão
primordiais para a saída da Europa desta crise profunda, que infelizmente já se
arrasta há demasiado tempo. E até a Chanceler alemã Angela Merkel, já admitiu
que o entendimento com o recém eleito presidente francês é essencial, tanto
para os dois países em causa, como, obviamente, para toda a UE.
Por seu lado
a própria Chanceler alemã sofreu também uma pesada derrota nas eleições
regionais deste fim de semana, o que
demonstra que as medidas de austeridade impostas começam a causar mazelas, até
mesmo nos povos mais ricos, como são os alemães. O caminho tem de ser
alterado...
Mas o que
mais me preocupa no atual cenário europeu é a situação da Grécia. Com os
resultados das últimas eleições legislativas o país ficou mergulhado, além da
profunda crise económica que atravessa, numa muito debilitante crise política. O
terrível flagelo da austeridade imposta aos Gregos é terreno fértil para
partidos extremistas e radicais, sendo exemplo disso a eleição de 21 deputados
neonazis para o parlamento grego! Um sinal de alarme que deve ser escutado nas
instituições onde políticos parecem viver num mundo só seu, alheios à realidade.
Os resultados
eleitorais foram dispersos, o que originou que o líder do partido vencedor,
Nova Democracia, não conseguisse formar governo. Seguiu-se o segundo partido
mais votado, a Coligação de Esquerda Radical, que se reputa contra as medidas
da Troika aplicadas no País, mas este também não teve sucesso.
De seguida o
PASOK, partido até então no poder, que passou nestas eleições para terceira
força política, tentou gerar consenso e constituir governo. Desde então
gerou-se um impasse. Chegou a ouvir falar-se em consenso, mas afinal parece que
o cenário mais provável será o de marcação de novas eleições, que se realizarão
no próximo mês de Junho.
A Grécia está à beira da bancarrota, só havendo dinheiro para salários até ao início do próximo mês, e se não for transferida mais uma tranche da ajuda externa, o país será incapaz de cumprir as medidas impostas pelo acordo de resgate, o que põe em cima da mesa a questão da sua permanência na zona euro.
A situação é
deveras inquietante. O risco de contágio a outros países, designadamente ao
nosso, é real. Os mercados sentem-se pressionados, com as principais bolsas
europeias em queda.
Contudo, não se
pode, como pretendem alguns, augurar um triste final para a UE. Os princípios
de solidariedade e de igualdade entre os Estados, que estiveram na génese da
criação da mesma têm de vingar. Num cenário de saída da Grécia da zona euro,
Portugal terá de mostrar às instâncias europeias que essa questão não se coloca
no nosso país. Mas isso não poderá ser feito à custa de acenarmos positivamente
a todas as medidas de austeridade, sem ai nem oi. Aplicando mais austeridade do
que aquela que nos é imposta! O caminho não é esse, até porque os resultados
previstos para este ano, segundo os recentes dados revelados por Bruxelas, são
mais recessão e mais desemprego do que previa o Governo e o não cumprimento da
meta do défice acordada. Um ano de austeridade sem precedentes, liquidou a
nossa economia e colocou os juros da dívida idênticos aos valores que tínhamos
dias antes do pedido de ajuda externa!
A situação da
Grécia deve ser encarada como uma chamada de atenção: está mais do que na
altura do Governo Português, e obviamente da poderosa Alemanha, perceberem que
as medidas de austeridade têm necessariamente de ser temperadas com um plano
paralelo de crescimento económico. O futuro da Europa depende disso.