sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Aeroporto da Horta e tiros no pé...


(Artigo Tribuna das Ilhas - 13/01/2012)
 Recentemente fomos confrontados com a decisão do Governo da República de não avançar com a ampliação da pista do aeroporto da Horta.
Todos sabemos que essa é uma questão que preocupa os faialenses há largos anos e é um dos temas em cima da mesa quando se trata de esgrimir argumentos políticos entre as várias forças políticas da nossa ilha.
Na campanha para as últimas eleições legislativas nacionais foi distribuído um panfleto que questionava o que tinham feito os deputados eleitos pelo PS-Açores à Assembleia da República em defesa do aumento da pista do aeroporto da Horta. Ora, o assunto não estava esquecido, havia um processo que estava a ser conduzido no sentido de levar a bom porto um entendimento entre o Governo da República e o Governo Regional sobre esta matéria.
Até que algumas mentes iluminadas se lembraram, numa altura de crise como a que atravessamos, de perguntar ao Ministro da Economia, se este investimento seria para avançar. Resposta do Ministro: não estão previstas verbas para execução destas obras, considerada a grave situação económica que o País atravessa. Aliás, o Ministro foi mais longe e disse claramente que a obra não se justifica de maneira nenhuma. Diz que para além dos custos, não vê “necessidade de serem alteradas” as condições de exploração e que aeroporto da Horta está “sobredimensionado para o tráfego que o demanda”.
Um investimento aeroportuário do tipo que se prevê para o aeroporto da Horta é obviamente avultadíssimo. A ampliação da pista em 300 metros, custaria 48 milhões de euros, em 400 metros 61 milhões de euros e em 500 metros, quase 73 milhões. O que esperavam obter com este comportamento os deputados do PSD eleitos pelos Açores à Assembleia da República? Se calhar esperavam que o Ministro dissesse que essa seria a sua prioridade em 2012! Santa ingenuidade! Ou então tinham outro objetivo, talvez fazer passar a ideia que estão a fazer alguma coisa pela situação, quando na verdade, aniquilaram todo o trabalho que até agora estava a ser realizado! É assim que pretendem defender os faialenses?
Já sabíamos que vivíamos tempos de dificuldades, pelo que esta altura seria a ideal para descartar uma obra desta natureza, mesmo sendo,  tão importante para a nossa terra.
Não percebemos é porque se prestaram a este frete e a este péssimo serviço à terra que os elegeu.
Por estas bandas os protagonistas políticos do partido que está no poder na República, logo conseguiram perceber o efeito do comportamento dos seus digníssimos colegas, e tentaram a todo o custo desculpar-se dizendo que quem devia assumir a obra seria o Governo Regional.
Até percebemos o PSD Faial, num ato de desespero a tentar salvar a face. Mas a coisa já ia longe.
Como todos sabemos o aeroporto da Horta é gerido pela ANA -  Aeroportos de Portugal, S. A., empresa pública nacional. Também todos sabemos que é intuito do Governo da República privatizar esta empresa, prevendo a passagem para a Região dos aeroportos explorados pela empresa nacional.
É a RTP-Açores, é o IRS das Câmaras Municipais, são os aeroportos! Temos vindo a assistir ao que podemos qualificar de desresponsabilização do Governo da República relativamente às Regiões Autónomas.
Por outro lado, o PS-Açores defende, e já defendia antes das eleições, que no caderno de encargos da privatização da empresa fique explícito que os custos de exploração dos aeroportos geridos pela ANA nos Açores não passem para a Região, pois representam um elevado encargo financeiro para o erário regional e, para além disso, constituem uma obrigação do Governo da República. O objetivo do Governo de Passos Coelho é claro: passar para os Açorianos os aeroportos que dão prejuízo para vender aos privados os que dão lucro.
Gostei do fato de Vasco Cordeiro ter-se apressado a declarar a sua disponibilidade para apoiar o Governo da República na concretização do investimento necessário na pista do aeroporto da Horta. Aliás, numa reunião que teve com simpatizantes na Horta, referiu que já tinha reunido, antes de toda esta situação, com o novo Ministro da Economia, tendo referido ao mesmo que compreendia que a altura agora não era a mais apropriada para um investimento deste género, mas que queria uma calendarização da obra e que o Governo Regional estava disponível para apoiar a mesma. Algo que até tinha sido visto com bons olhos pelo Ministro.
A posição adotada pelos deputados da República do PSD-Açores foi um erro crasso, um verdadeiro tiro no pé. Esperamos a bem dos faialenses, e dos açorianos em geral, que esta estratégia não se repita. 

Horta, 9 de Janeiro de 2012

2 comentários:

  1. Concordo com a análise, mas estragou tudo com o penúltimo parágrafo, onde se revela o clubismo fanático do partidarismo político que infelizmente obnibula todos os partidos nacionais e sobretudo regionais.
    É que bem vistas as coisas, o governo regional actual, em pelo menos 10 anos não conseguiu nada de relevante nesta matéria, junto ao seu homólogo nacional (leia-se governo de Sócrates) e agora em reuniões quase maçónicas com o ministro de cor contrária é que conseguiria uma "calendarização"?
    Além disso, se o actual e talvez futuro governo regional do PS, em vez da disponibilidade subjectiva, vaga e óbviamente pouco convicta para "apoiar o governo da república" se preocupasse em concretizar uma série de obras objectivas no Faial, que ele próprio por várias vezes anunciou e recentemente cancelou...talvez fosse de maior honestidade para com os faialenses.
    Talvez o estádio Mário Lino...talvez o aquário virtual...talvez a variante à cidade da Horta...talvez o campo de golfe...talvez apoiar a câmara no saneamento básico!
    Talvez mais políticos de competência técnica em vez de políticas de nomeação e de fanatismo partidário me levassem a acreditar...e a mudar o meu orgulhosamente voto em branco.

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  2. Meu caro anónimo,
    O clubismo, refiro-me a clubes desportivos, pode efetivamente ser fanático e muitas vezes sabemos que o é. Somos de um clube apenas porque sim, muitas vezes não sabendo explicar o porquê. Quanto ao partidarismo político apenas adere quem quer, por convicção. Cada um escuta as posições com que mais se identifica e a partir daí faz as suas opções, claras e elucidadas. As minhas são tudo menos fanáticas e muito menos estão obnubiladas.
    O que se tentou foi fazer algo em prol da obra em causa, sendo qual fosse a cor partidária da República. Por isso se justifica as conversações, quer com o Governo de Sócrates, quer com o atual Governo de Passos Coelho. Acresce o facto que agora temos um dado completamente novo e que faz toda a diferença, a privatização da empresa ANA.
    Se não faz sentido um membro do GRA reunir com um Ministro de cor contrária, a fim de tentar fazer algo por esta situação, então, meu caro, muito menos sentido faz uns deputados da República, perguntarem a um Ministro da mesma cor, se vai avançar com uma obra, sendo que à partida teriam, pela própria ordem das coisas, de conhecer a resposta que daí adviria..
    Quanto às obras, parece-me que se esqueceu (propositadamente ou não) de referir o Bloco C do Hospital, a Casa Manuel de Arriaga, os centros de dia e de noite da Conceição e dos Flamengos, a creche dos Flamengos, o novo Porto da Horta e centro de aditologia, E isto na situação difícil que vivemos.
    Espero que não caia no mesmo erro do PSD-Local, que apoia toda a contenção, austeridade e medidas draconianas do Governo da República, mas exige ao Governo Regional todas as obras e investimentos no Faial.
    Porventura uma situação que se aproxima em muito do "fanatismo partidário"!

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