Artigo Tribuna das Ilhas (14/10/2012)
É voz corrente que os jovens não se interessam por política.
Desconhecem os seus meandros e os seus protagonistas e, sobretudo, o estatuto
de cidadãos que o exercício político lhes confere.
Fato é que muitos dados apontam para isso, uma vez que cada vez menos
são os jovens (e menos jovens!) que votam. Aliado ao desinteresse, podemos
também englobar a variável da desconfiança com que olham para a política e para os políticos. Desconfianças essas que atingiram o seu pico máximo nos últimos 2
anos, tais são os exemplos de contradições e de políticos apanhados a dizer o
dito por não dito. Podemos dizer que ultimamente para certas franjas da
população passou-se de um estado de desconfiança para a total aversão dos
agentes políticos. Esta generalização descabida faz com que o justo (maioria)
pague pelo pecador (minoria) e pior do que isso, provoca um total afastamento
de muitos jovens para um possível envolvimento na causa política.
Serão autênticas as convicções formatadas pelo senso comum? Ou, para
surpresa de muitos, estarão os jovens identificados com uma outra forma de
fazer política sem que disso tenham sequer consciência?
A contradizer estes dados de desinteresse e desconfiança temos o
aumento gradual do voluntariado jovem pela causa pública, quer ao nível do ensino
secundário, como universitário. São exemplos, o angariar de fundos para a luta
contra o cancro, géneros alimentícios contra a fome, voluntariado em partidos
políticos, instituições de carácter religioso, manifestações em favor dos
direitos humanos, dos animais, etc.
As redes sociais, fenómeno que se generalizou nos nossos dias, passaram
a ser de utilização diária. Ao opinarem nas redes sociais sobre os mais
variados assuntos, mesmo aqueles do dia-a-dia, os jovens estão de fato a fazer
política sem que se apercebam, pois a sua posição fica de alguma forma
registada e porque qualquer opinião de um jovem é sempre baseada nas suas
convicções, que nada mais são que uma forma de pensamento político. Esse é um
dos motivos pelos quais não se deve descurar a importância deste fenómeno na
vida atual.
A razão pela qual os jovens não estão envolvidos nas instituições
democráticas prende-se também com o facto de termos um modelo de democracia com
100 anos. Um modelo que, segundo Don Tapscott, pode ser simplificado na
seguinte maneira: "Eu sou um
político. Ouçam-me. Votem em
mim. E depois vou dirigir-me durante quatro anos a recetores
passivos." O cidadão vota, o político governa. É este o paradigma
ultrapassado. Este modelo assente numa sociedade em que as escolas, as igrejas
e o modelo de família funcionavam num único sentido, transmitiam informações e
os jovens cresciam como recetores passivos e agarrados à televisão.
Mas estes jovens, hoje em dia, estão a crescer de forma interativa, são
informados e interventivos, pois são a geração que cresceu com as novas
tecnologias.
A dificuldade na ligação dos jovens com a política não se centra apenas
no emissor da mensagem, e no meio/modelo utilizado na comunicação, mas também
no seu recetor, Os Jovens.
O Jovem, independentemente da sua ideologia, não pode ficar ausente das
discussões que envolvem o nosso futuro. O eleitor jovem deve compreender que a
política faz parte do nosso dia-a-dia, e como tal, deve ser um tema tratado com
todo o cuidado, empenho e responsabilidade, sem generalizações levianas.
A inserção da juventude na Política é de extrema importância para
renovar quadros, trazer novas ideias e abrir caminho para um novo paradigma.
Horta, 10 de dezembro de 2012