Artigo Tribuna das Ilhas (24/05/2013)
Celebrámos mais uma vez as festas de louvor
ao Espírito Santo, a maior festa cristã destas ilhas, que simboliza a partilha,
a fraternidade, a solidariedade, a esperança e a entreajuda que marca gerações
de açorianos. O culto ao Divino Espírito Santo foi trazido para os Açores pelos
primeiros povoadores. O seu isolamento e o facto de serem fustigadas
frequentemente pela força da Natureza, fez com que fosse particularmente
difícil a vida nestas ilhas açorianas. Devido a essas dificuldades, os
Açorianos tornaram-se devotos do Espírito Santo, e nesse culto tentavam
encontrar a serenidade que a vivência diária na realidade arquipelágica, muitas
vezes lhes retirava. As comemorações estão recheadas de manifestações
religiosas, mas também de ações, rituais e simbolismos, que perduram até aos
nossos dias.
Tradicionalmente o ponto alto da manifestação
religiosa do Espírito Santo é a coroação, seguindo-se as famosas Sopas e a
distribuição de pão. Em muitas freguesias, com maior incidência nas ilhas do
Triângulo, as Irmandades e os Impérios do Espírito Santo organizam-se, para
fazer as sopas e cozer o pão.
Estas instituições que se organizam à volta
do culto ao Espírito Santo, são movidas por pessoas, que para além da sua vida
pessoal e profissional, se dedicam com fé, oferecendo o seu tempo para ser
possível manter viva esta tradição. O espírito de solidariedade que impregna as
pessoas que se dedicam a esta causa é algo que, só se explica, pela profunda
devoção que nutrem pelo Espírito Santo. Para elas tem de haver uma palavra
especial. São elas que, com o seu trabalho, trazem tanta grandiosidade às
comemorações e o seu sentido cívico é demonstrativo da maneira de ser das
nossas gentes. Um povo define-se pela sua cultura e
manter estas tradições vivas, traduz-se no perdurar da nossa afirmação
identitária.
Na diáspora, os nossos emigrantes vivem
igualmente esta época com grande intensidade. Tal como cá, organizam-se festas
com sopas e distribuição de pão, rosquilhas e massa sovada. Os emigrantes
recriam as tradições açorianas com devoção e, assim, conseguem sentir-se mais
próximos da sua terra e família.
Quando se fala das festas do Espírito Santo,
os nossos sentidos transmitem-nos sensações: o aroma das Sopas e do vinho de
cheiro, o rebentar dos foguetes, a melodia dos foliões e do Hino do Espírito
Santo, o gosto da massa sovada e do arroz doce.
O culto dos Açorianos ao Divino Espírito
Santo é tão intenso, que foi escolhida a segunda-feira do Espírito Santo, como
feriado regional, o dia em que se celebra o Dia da Região Autónoma dos Açores,
que festeja a açorianidade e a autonomia. Por ser o mais popular dos dias
festivos em todo o arquipélago, entendeu o parlamento açoriano justo
consagrá-lo legalmente como afirmação da identidade dos açorianos, da sua
filosofia de vida e da sua unidade.
Este ano voltámos a celebrar a festa maior da
Autonomia Açoriana na cidade da Horta e na casa mãe da Autonomia, o Parlamento
Regional, o que fez com que a cerimónia tenha adquirido um particular
simbolismo.
A autonomia regional açoriana é um exemplo de
sucesso que deve ser respeitada por todos. Devido à crise que atravessamos,
muitos têm sido os desrespeitos e as tentativas de forte condicionalismo à
nossa Autonomia. Exemplos infelizmente não têm faltado, mas destaco um exemplo
recente, aparentemente pequeno e inofensivo, mas que diz muito da consideração
que os atuais órgãos de soberania nutrem pela Autonomia Açoriana. Ao marcar o
Conselho de Estado para o Dia da Região, o Presidente da República demonstrou,
mais uma vez, o que sente pelos Açores e pela nossa Autonomia. A decisão de
Vasco Cordeiro de não ir ao Conselho de Estado é de louvar. Pois para nós,
Açorianos, os Açores estão sempre primeiro.
A Autonomia não é estática, a Autonomia está
no pulsar das nossas gentes. Dos que aqui nasceram, dos que escolheram esta
terra como sua e, ainda, daqueles que, mesmo longe, sentem os seus Açores como
quando cá viviam.
Viva os Açores!
Horta, 21 de maio de 2013