sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os Açores à frente do partido: da teoria à prática


Artigo Tribuna das Ilhas (21/09/2012)
O povo saiu à rua, numa manifestação espontânea por todo o país, para dizer BASTA às medidas extremamente gravosas, irrefletidas e contraproducentes do Governo de Pedro Passos Coelho. As últimas medidas de austeridade apresentadas aos portugueses são de uma violência desmesurada. Estamos perante um Governo mais troikista que a Troika, que infelizmente continua a cortar onde é mais fácil, nos rendimentos de quem trabalha.  Este Governo está a aumentar de forma assustadora o nível de pobreza do País, chegando ao ponto de ser o primeiro Governo da nossa história, que diminui o valor líquido do salário mínimo. Não percebe que está a colocar a economia portuguesa num fosso sem saída. E vêm com um ar muito cândido para a televisão tentar convencer os portugueses que agora sim, que estas são as medidas certas para dinamizar a economia. Como? Se as anteriores falharam, e estas, são muito mais recessivas, como é que irão resultar? 
De todos os quadrantes políticos produziram-se logo severas manifestações contra as medidas apresentadas. Desde reputados militantes do PSD, até membros do próprio Governo. Dos militares, a todos os comentadores da área política e económica. Desde magistrados a membros da Igreja. Dos trabalhadores ao patronato. Até os que supostamente beneficiariam da medida, como as grandes empresas/indústrias, vieram manifestar-se contra. Não se encontra um único economista que se reveja nestas medidas. Manuela Ferreira Leite, economista e anterior líder do PSD, afirmou “Se continuamos a insistir nesta receita, que não está a dar resultados, quando chegarmos ao fim o País está destroçado”; Bagão Félix, antigo ministro das Finanças do Governo PSD-CDS, referiu mesmo que a austeridade chegou aos "limites insustentáveis do decoro ético". Ou seja, parece que apenas o Primeiro Ministro e o seu Ministro das Finanças, acreditam que estas medidas trarão por fim os resultados esperados, permanecendo completamente isolados nessa ideia. 
O povo manifestou-se de uma forma clara e massiva em todo o país. O tom das críticas e o desespero presente nos depoimentos que ouvimos nas televisões são indicativos do forte e generalizado cartão vermelho que foi apresentado ao Governo. 
Na Região a condenação a estas medidas foi imediata. Infelizmente não por todos. Berta Cabral remeteu-se ao silêncio, sendo que a primeira reação pública do seu partido, surgiu apenas alguns dias depois do anúncio das famigeradas medidas, trabalho esse que coube ao presidente dos Trabalhadores Socais Democratas (TSD). Referiu que não se identificavam com as medidas, mas que reconheciam a sua necessidade, passando a maior parte da sua intervenção a culpar o anterior governo da República. Tendo em conta as reações extremamente negativas que se fizeram sentir, a líder do PSD na Região viu-se obrigada a reagir, tendo-o feito apenas uma semana após o anúncio das mesmas. Veio então dar a entender que era contra as medidas e, tentando desviar as atenções, apresentou um pacote de "corte de mordomias", que na sua maior parte já tinham sido anunciadas por várias forças políticas da Região. 
Mas a questão que se coloca é: se Berta Cabral é verdadeiramente contra, porque não anuncia que os deputados do PSD-Açores na República, irão votar contra essas medidas, como já afirmou o PS-Açores, antes mesmo de saber a decisão do partido a nível nacional? É fácil perceber porquê!
Não seria esta uma boa oportunidade para mostrar que os Açores estão acima do partido, ou será esta apenas uma frase feita em altura de eleições? 
Cabe aos Açorianos decidirem se querem à frente dos destinos da nossa Região um partido que já deu provas no passado de proteger os Açores, seja qual for a cor política na República, ou se querem alguém, como Berta Cabral, que hesita nos momentos essenciais, tendo mesmo já afirmado que "Pedro Passos Coelho é o Primeiro-Ministro que Portugal precisa e que os Açores merecem."

Horta, 17 de setembro de 2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

I. Realidades do País II. Renovação?



 Artigo Tribuna das Ilhas (07/09/2012)
I. Realidades do País
Da 5.ª avaliação da Troika ao programa de ajustamento português resultou o desfecho inevitável: o país não cumprirá a meta do défice fixada para 2012 de 4,5% do PIB. O Governo já informou a Troika que o défice, na melhor das hipóteses, será de 5,3%.
Agora Passos Coelho terá de explicar aos portugueses como irá cumprir o défice fixado para 2013, este ainda mais apertado, de 3%. Sim, porque para o ano não pode contar com os subsídios dos pensionistas e funcionários públicos. Os portugueses merecem saber o que se vai passar a seguir e não viver num constante clima de incerteza.
Com a conclusão de que a meta do défice será incumprida volta a assombrar-nos o papão da implementação de mais medidas de austeridade. Mas será isso viável com o País no estado em que está, com uma taxa de desemprego de 15,7%, com falências a um ritmo de 53 empresas por dia? Só quem não tem noção da realidade portuguesa poderá pensar que com mais austeridade se vai lá! Esta receita de mais e mais austeridade está a matar a economia. A solução é, já o disse nestes escritos, a flexibilização dos objetivos do défice fixados no programa de ajustamento, por forma a que se consiga dinamizar a economia. Os Portugueses cumpriram, o Governo falhou. É este o resultado do caminho seguido pelo Governo, do ir “além da troika” e da austeridade “custe o que custar”.
Mas veio a público uma boa notícia para a Região Autónoma dos Açores. A Direção Geral do Orçamento concluiu que nos Açores houve um corte de 9% na despesa, enquanto que a Madeira aumentou os seus gastos em 7%. Uma região como a nossa, dividida em 9 ilhas, por oposição às 2 ilhas da Região Autónoma da Madeira, consegue ter um número consideravelmente inferior de dívida pública, menos funcionários públicos e menos entidades públicas. Bem se vê por estes dados a diferença na gestão entre os Açores e a Madeira. Só assim é possível nos Açores pagarmos menos impostos do que na Madeira, fruto de uma melhor gestão do dinheiro dos contribuintes.

II. Renovação?
(blog In Concreto)
Com o aproximar das eleições regionais surgem situações no mínimo caricatas. O PSD-Açores, partido que inegavelmente tem fortes tradições autonomistas, não apresenta, pela primeira vez na história da autonomia, lista pelo círculo eleitoral da ilha do Corvo. Um partido que pretende governar nos Açores não é capaz de formar uma lista própria em uma das suas 9 ilhas! Este fato é revelador da falta de capacidade de agregação que atualmente atravessa o PSD-Açores. Esta é uma pesada, além de ser a primeira, derrota eleitoral com que se viram confrontados. Pergunto-me quem representará e pugnará pelos interesses da ilha do Corvo, no caso deste Partido ser Governo, se não terão nenhum deputado eleito por esta ilha? Porque é para isso que servem os deputados, para exercer influência junto do seu governo, no sentido de conseguirem cumprir os anseios das populações que os elegeram.
Acredito que estamos numa altura em que a renovação é a palavra de ordem. Os partidos têm de se regenerar e rejuvenescer, têm de saber atrair gente nova e com novas ideias para a vida política. Gente interessada em trabalhar pela sua terra e em dar o seu melhor em prol do seu desenvolvimento.
Não posso deixar de estranhar que um partido que fala de renovação, se apresente às próximas eleições pela ilha do Faial, com um cabeça de lista que se candidata ao quarto mandato consecutivo, ou em que os dois primeiros lugares (os que são efetivamente elegíveis) são os mesmos que ocupam os lugares de deputados atualmente. Como pode um partido falar de renovação e nos 10 primeiros lugares da sua lista por São Miguel, apresentar 50% de candidatos que tomaram parte na governação nos tempos do Dr. Mota Amaral ou ter um único jovem (com 36 anos!)? 
Estes são fatos indesmentíveis que dizem muito sobre a capacidade de renovação dum partido e sobre as garantias (ou não?) que dá para o futuro da nossa Região, que todos queremos que seja cada vez melhor. 

Horta, 3 de setembro de 2012