sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um caminho diferente do da República



 Artigo Tribuna das Ilhas (30/11/2012)


Foi aprovado na semana passada o Programa do Governo Regional para os próximos 4 anos. Em termos governativos, e dada a delicada conjuntura que atravessamos, não duvido estarmos perante a legislatura mais difícil, desde o início da autonomia regional.
O povo legitimou o novo Governo Regional nas últimas eleições dando-lhe uma clara maioria. O Programa de Governo é em toda a linha o que o Partido Socialista defendeu em campanha eleitoral, porque efetivamente as promessas são para se cumprir. No entanto, o Presidente do Governo Regional tinha pedido no seu discurso de vitória união entre todos e colaboração, o que não se constatou no sentido de voto da oposição demonstrado na semana passada no Parlamento Regional.
Obviamente que este programa de Governo tem um fortíssimo cunho socialista e a oposição não tem de se rever nele. Mas dada a situação gravíssima de crise em que nos encontramos, teria sido uma nota importante a deixar aos açorianos que remamos todos para o mesmo lado. Seria importante mostrar ao Governo de Passos e Portas que os Açorianos estavam unidos e que todos iam colocar os Açores à frente dos partidos e de agendas políticas. Até porque, goste-se ou não, será este programa que regerá a vida dos açorianos nos próximos 4 anos.
De realçar deste Programa a importância fulcral dada à criação de emprego. Tal como referido amiúde em campanha eleitoral, uma das tónicas dos próximos 4 anos será a criação de emprego. A taxa de desemprego nos Açores recuou 0,2 pontos percentuais no terceiro trimestre deste ano, face ao trimestre anterior, fixando-se nos 15,4%. Uma taxa que volta a ser inferior à taxa de desemprego nacional e em contra ciclo com o aumento verificado a nível nacional. É uma redução ligeira, é certo, mas uma tendência que se tem vindo a manifestar nas últimas avaliações.
O recente relatório elaborado pelo Ministério de Vítor Gaspar, vem comprovar, mais uma vez, que a Região, ao contrário do resto do País, está a cumprir com as suas metas orçamentais. Nos primeiros dez meses de 2012 obtivemos uma receita de 814,5 milhões de euros e uma despesa de 757,6 milhões (saldo positivo de 56,9 milhões). Verificamos assim que até outubro deste ano, as contas públicas da Região não contribuíram para o défice do Estado, tendo dado pelo contrário, um contributo positivo para a redução do mesmo.
Por outro lado, a situação no Continente agrava-se de dia para dia. O Orçamento de Estado para 2013 traz medidas tão gravosas para as famílias e as empresas que até trememos em pensar o que nos espera para o ano que vem. Perdas reais de salários, que se traduzirão numa queda do poder de compra. Segundo dados do Banco de Portugal, o poder de compra dos portugueses cairá em 2013 para o nível mais baixo que se regista desde o ano de 1999. Com este orçamento, em 2013 teremos o maior aumento de impostos da nossa história democrática, o que aumentará consideravelmente o desemprego, o n.º de falências e o fosso entre ricos e pobres. É este orçamento que contou com os votos favoráveis dos deputados do PSD-Açores na República, um dos quais da nossa ilha.
Manifestações massivas nas ruas que, infelizmente, terminam em violência, demonstram que a face do País está a mudar. Porque os portugueses pura e simplesmente não aguentam mais austeridade e ver que o Governo falha em toda a linha, continuadamente. Não aguentam os meninos bem comportados que dizem sim a tudo o que nos é imposto e teimam em seguir um caminho que, não trouxe até agora, nem trará bons resultados. Auguramos um ano de 2013 sem precedentes para as famílias e empresas. Nos Açores felizmente, o cenário dantesco que se vive no Continente é minimizado. Esperamos que este Governo Regional, com o contributo dos restantes partidos políticos e parceiros sociais, continue a trilhar um caminho diferente do da República, para que neste pequeno paraíso se continue a viver melhor que no resto do País.


Horta, 26 de novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A geração mais qualificada de sempre


Artigo Tribuna das Ilhas (02/11/2012)

Aqui há uns anos ser-se licenciado era sinónimo de emprego. Hoje em dia todos sabemos que já não é bem assim. Este fenómeno de saída do nosso País de jovens em idade ativa é um fator de preocupação. Estamos a falar de jovens altamente qualificados aos quais Portugal não consegue oferecer resposta às suas legítimas aspirações de colocação no mercado de trabalho na área em que se formaram e investiram anos da sua vida. 
É revoltante ouvir o Primeiro-ministro reconhecer ser esta a mais bem qualificada geração de portugueses, mas ao mesmo tempo oferecer como opção de vida a emigração, o desemprego ou o trabalho precário. Que governantes são estes que desistem do futuro do País, da sua "geração mais qualificada", em quem tanto se investiu, e que a exporta gratuitamente?  Como podemos adjetivar quem sugere que o desemprego e a estratégia de  empobrecimento do País não é um drama social mas antes "uma oportunidade de mudar de vida"?
O futuro do País não está na saída dos melhores para o estrangeiro, mas sim na capacidade de capitalizar a geração mais qualificada de sempre.  
Quase todos os dias ouvem-se notícias de jovens que não arranjam emprego no nosso País e saem em busca de um futuro melhor, que se coadune com o que sonharam para si.   
Entre junho de 2011 e junho de 2012, terão deixado a população ativa portuguesa, 65 mil jovens com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos, na sua grande maioria licenciados, o que corresponde a uma descida de 5% da população ativa. 44 mil saídas só no primeiro semestre de 2012, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
É verdade que atravessamos uma altura de crise, com uma taxa de desemprego elevada, mas é necessário, a todo o custo, tentar manter os melhores em Portugal. Esta geração altamente qualificada tem de ser vista como uma mais-valia, o seu "know how" é essencial à criação de riqueza no nosso País. Estas pessoas e os seus familiares investiram tempo e dinheiro numa formação, que parece que agora não lhes serve de nada. As suas expetativas de conseguir emprego saíram defraudadas.
Mas não podemos deixar que isso nos desmotive. Apesar de hoje em dia ser difícil e oneroso investir na formação, não podemos esquecer o fato de o desemprego ser muito superior em pessoas com um nível de escolaridade mais baixo.
A estrutura de qualificações e habilitações da população ativa nos Açores ainda é frágil. A grande maioria (79,2%) dos ativos possui um nível de escolaridade igual ou inferior ao 3.º Ciclo do Ensino Básico e é baixa a proporção de ativos com um nível de escolaridade Superior (8%).
No entanto, os jovens têm de ser despertados e sensibilizados para a aposta na formação como meio de diferenciação competitiva no mercado de trabalho. Deve-se intervir junto destes, insistindo na estratégia da preparação para a vida ativa, fator essencial para a empregabilidade.
Nos Açores o problema da saída de jovens coloca-se com ainda mais acuidade, visto serem muitos os que saem da Região para prosseguir estudos e já não regressam. Por isso as políticas de empregabilidade dirigidas aos jovens são de extrema importância, e têm necessariamente de estar sempre na linha da frente das preocupações do próximo executivo regional. Todos sabemos que a legislatura que se avizinha irá ser complicada, mas a criação de emprego terá de ser o objetivo n.º 1 do Governo dos Açores. Têm de ser dadas condições aos jovens açorianos para regressarem à sua terra, aqui se fixarem, e potencializarem todo o seu conhecimento em prol da Região. Aqui estão as suas raízes, as suas famílias, e, acima de tudo, é aqui que nos sentimos em casa.

Horta, 29 de outubro de 2012