1. O Ministro Gaspar
O Ministro das Finanças veio anunciar, na semana passada, que afinal o cumprimento
do objetivo fixado pelas instâncias internacionais para o défice orçamental de
Portugal (4,5% do PIB para 2012), poderá não ser atingido. O Sr. Ministro
admitiu que, face aos resultados obtidos com a estratégia do Governo de ir para
além do acordo com a Troika, estamos perante "um aumento significativo dos riscos".
O mesmo Ministro que tinha anunciado que 2012 seria o ano em que
Portugal começaria a livrar-se do garrote financeiro imposto às nossas contas
públicas.
Não é necessário ser nenhuma mente iluminada na área da economia e das
finanças para perceber que se os portugueses ganham menos, compram menos. Logo
as empresas vendem menos, a economia estagna e aumenta o desemprego. É um ciclo
vicioso!
E, se não cumpriremos o défice, o que se seguirá? Mais medidas de
austeridade?!
Sim, porque o Ministro Gaspar e o Primeiro-Ministro insistem que
Portugal não vai pedir mais tempo ou mais dinheiro para cumprir as metas do
programa de ajuda. Pior do que isso, o Primeiro Ministro deixou claro no
Parlamento que, se for necessário, não hesitará em tomar mais medidas de
austeridade! Esta ideia já parece uma obsessão! Sr. Ministro, este caminho está
errado, não está a dar frutos. É preciso renegociar a dívida. Precisamos de
mais tempo para cumprir o défice orçamental. Os Portugueses não aguentam ser
sujeitos a mais medidas de austeridade. As suas condições de vida deterioram-se
significativamente, a taxa de desemprego é assustadora, abrem falência 17
empresas por dia desde janeiro, um aumento de 47% face a igual período no ano
passado! O boletim da execução orçamental, divulgado dia 22 de Junho pela
Direcção-Geral do Orçamento (DGO) confirma as piores previsões sobre o colapso
da receita fiscal e sobre a dificuldade em atingir a meta do défice.
A estratégia orçamental escolhida por este Governo fracassou. Depois de
todos os aumentos no IVA, em que se previa um aumento da receita de 13,6%, o
que se verificou foi uma redução de 2,8%. Depois de todas as alterações legais,
que previam uma redução no subsídio de desemprego de 2,7%, afinal o que
aconteceu foi um aumento de 23%.
A política económica deste Governo levou a um desvio colossal no IVA de
1872 milhões de euros, a um desvio colossal no subsídio de desemprego de 403
milhões e a uma queda das contribuições sociais de 278 milhões. Foi a esta
situação que nos levou uma governação que sempre quis ir para além da Troika:
um buraco de 2553 milhões de euros (valores anualizados).
De acordo com os dados divulgados pela DGO, o Estado arrecadou menos
3,5% em impostos e a despesa aumentou 3,4%. O défice da administração central e
da Segurança Social aumentou mais de seis vezes nos primeiros cinco meses deste
ano do que em igual período no ano passado.
Enquanto que em Países como França, Irlanda, Espanha, Itália e Grécia, os
líderes dão sinais claros que esta política imposta pela Sra. Merkel terá de
ser alterada, o Ministro Gaspar, sereno e calmíssimo como sempre, continua a
afirmar que Portugal não tomará a iniciativa de renegociar a dívida, seguindo e
defendendo como um cordeirinho a linha Merkel. Como se, tudo o que se passa no
País, não lhe fizesse qualquer tipo de espécie...
2. O Ministro Relvas
Por seu lado, o Ministro "amigo" da RTP-Açores, o tal que diz
que " As audições das Regiões Autónomas são um mau hábito que tem
de acabar” e que "...os Açores não são mais nem menos
que uma qualquer região mais desertificada do Continente”, começa a ser conhecido por protagonizar episódios, como os poderemos
chamar?, "menos claros" (para não sermos mais duros), no seio do
elenco governativo. É o seu envolvimento no caso das Secretas, relações
obscuras com o espião Jorge Silva Carvalho, as suas "omissões" e
contradições em sede de comissão parlamentar sobre este assunto e a pressão
ilícita exercida sobre uma jornalista do Público, vinda do próprio Ministro que
tutela a comunicação social, e que tanta tinta tem feito correr. E mais
recentemente as notícias trazidas a público de tentativas de favorecimento de
empresas onde trabalhava Passos Coelho, na altura em que Relvas era Secretário
de Estado no Governo de Durão Barroso.
O Ministro Relvas parece não dar nenhuma importância às notícias, de
duvidosa retidão, que se vão avolumando sobre ele, continuando
a fazer parte do elenco governativo. Pior do que isso só mesmo o silêncio do
PSD e do Primeiro Ministro.
Horta, 25 de Junho de 2012