sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal, balanço e futuro!


  (Artigo Tribuna das Ilhas - 23/12/2011)
Mais uma vez temos as Festas à porta! Natal é a festa da família! Em nenhuma outra altura do ano como nestes dias nos sentimos tão próximos dos nossos entes queridos.
O fato de vivermos nestas ilhas faz com que muitas famílias estejam separadas durante a maior parte do ano. Quase todas as pessoas que conhecemos têm alguém longe. Um avô que emigrou para outras paragens e por lá ficou, um sobrinho que reside no Continente e que lá formou família, um filho que estuda na Universidade noutra ilha. São tantos os exemplos e tão próximos de nós. Provavelmente na nossa própria casa.
Por isso é sempre emocionante viver o reencontro com os nossos! Por estes dias o aeroporto da Horta enche-se de gente à espera dos seus familiares. E é ver os sorrisos abertos, os beijos e abraços e as lágrimas de felicidade que teimam em aparecer e que dizem "É tão bom ter-te em casa!"
As famílias açorianas aprenderam a viver essa separação. E por isso as Festas, os dias em que estamos todos juntos, adquirem tanto significado.
No Natal experienciamos a partilha e a fraternidade, abrimos o coração aos sentimentos positivos. Estes sentimentos positivos que nos enchem a alma deviam ser perpetrados durante todo o ano.
Muitos perguntarão: "Como fazer isso quando atravessamos esta crise?" Efetivamente, nos últimos tempos parece difícil aos portugueses experienciarem sentimentos positivos. 2011 ficou marcado pela queda de um Governo, pela entrada da ajuda financeira externa, pela imposição de medidas de austeridade nunca antes sentidas pelas populações.
No entanto, nem tudo foi mau, pois na nossa ilha foram inauguradas e, estão ainda a decorrer, uma série de obras que contribuem, em toda a linha, para o bem-estar das populações. Falamos do Centro de Dia para Idosos da Freguesia da Conceição, do Centro de Dia e Noite para idosos da freguesia dos Flamengos, da Casa Manuel de Arriaga, do Porto da Horta, do novo Bloco C do Hospital. Tivemos também a recompensa do bom trabalho que tem sido feito na nossa Terra, com a atribuição de prémios e nomeações internacionais de grande prestígio, que envaidecem todos os Faialenses e Açorianos. São eles a entrada da nossa Baía para o clube restrito das Mais Belas Baías do Mundo, que certifica e credibiliza um desenvolvimento sustentado e no respeito pela natureza, o prémio ÉDEN (Destino Europeu de Excelência) para o Parque Natural do Faial e a nomeação do Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos para Museu Europeu do Ano (EMYA).
Podemos dizer, que apesar da grave crise que atravessamos, muito tem sido feito pela nossa terra.
Mas não nos enganemos: 2012 será um ano muito difícil. O desemprego aumentará, os rendimentos vão diminuir, as famílias e empresas sentirão a crise como ainda não a experienciaram até agora.
Por isso, a solidariedade deve imperar. Cabe também a cada um de nós, enquanto pessoa, ser solidário para com o próximo. As campanhas de solidariedade, que adquirem por estes dias uma força acrescida, devem ser mantidas e realizadas durante todo o ano, pois cada vez mais haverá quem precisará da nossa ajuda.
Da parte dos Governos o apoio às famílias será essencial no ano que se aproxima. Acredito que o próximo ano terá de ser encarado de frente e com determinação. Os tempos serão difíceis sim, mas não podemos ver tudo de forma negativa.
Não podemos insistir numa forma de fazer política baseada em atacar tudo e todos, pondo por vezes ilhas contra ilhas com comparações irrealistas, não dando valor à opinião dos mais jovens, atacando pessoas diretamente e não ideias, numa clara tentativa demagógica de menorizar tudo o que é feito no Faial. Acredito que os faialenses não gostam disso.
Sei, como faialense que sou, que obviamente nem tudo está bem, mas também sei reconhecer e apreciar as coisas boas que são feitas pela nossa ilha. Acredito que ninguém gosta de ouvir dizer mal de tudo, mas não ver apresentada qualquer proposta concreta que se traduza na melhoria das condições de vida dos faialenses. A política do "bota-abaixo" não serve ninguém nos nossos dias!
Devemos sim estar todos unidos, tentando pôr de lado os partidarismos que nos separam. Está na altura de remarmos todos para o mesmo lado a bem dos Faialenses!
Aproveito a oportunidade para desejar um Feliz e Santo Natal a todos os leitores e que os dias de festa sejam aproveitados para ganharmos forças de encarar o ano que se aproxima com a confiança e esperança típicas dos Açorianos!

Horta, 19 de Dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

I - Apoio social em tempo de crise II – Fado, património imaterial da Humanidade


                                                    (Artigo Tribuna das Ilhas - 09/12/2011)

I - A nossa sociedade mudou. A crise que se abateu sobre a Europa é de tal monta que todos a sentimos na pele. As medidas de austeridade que se impõem sobre as pessoas são de tal ordem que todos os dias os portugueses sentem que lhes estão a mexer no bolso, como se costuma dizer!
A Região Autónoma aprovou o seu Plano e Orçamento para 2012. O enfoque destes instrumentos reguladores de gestão na Região vai, como não podia deixar de ser numa altura como esta, para o apoio às famílias e às empresas. A época das grandes obras terminou. A sociedade precisa agora que os Governos tenham especial atenção nos que mais sofrem e perdem com esta crise.
 E neste campo, é de louvar o investimento que tem sido feito na ilha do Faial, dotando-a de equipamentos de apoio social, que se revelam essenciais para as famílias. Realço a construção de dois centros de apoio a idosos nas freguesias da Conceição e dos Flamengos. No primeiro caso, trata-se de um Centro de Dia, equipamento este já inaugurado, no qual os idosos poderão estar ocupados, tendo um sítio onde estar durante o dia, combatendo assim a solidão e eventuais carências, com todo o tipo de apoio profissional, regressando à noite às suas casas. No caso dos Flamengos, a valência será brevemente inaugurada e inclui, além do Centro de Dia, um Centro de Noite, o primeiro do seu género a nível Açores, que permite aos idosos permanecerem naquele espaço igualmente durante a noite, dando apoio a pessoas que já não se sentem confortáveis, nem têm condições de passar a noite sozinhas nas suas casas.
No decorrer da campanha eleitoral para as últimas eleições legislativas nacionais visitei instituições como o Lar das Criancinhas e o Colégio de Santo António, deparando-me com uma realidade preocupante na nossa ilha: a da extensa lista de espera para as creches. A lista de espera ascende a 150 crianças o que é de facto inquietante, quando todos sabemos que a população açoriana está envelhecida e se deve apostar num incremento da natalidade.
No entanto, foi com muito agrado que tive notícia da aprovação de uma proposta de alteração ao Plano da Região, apresentada pelo Grupo Parlamentar do PS, no sentido de  ser incluída a construção de uma creche nos Flamengos, com capacidade para 75 crianças, integrada no Centro Comunitário do Divino Espírito Santo, valência que alberga o Centro de Noite já referido.
Este tipo de equipamentos revela-se importantíssimo por duas razões: além de trazer notórias mais-valias a nível do apoio fundamental que presta às famílias, assume também grande importância por ser gerador de emprego. Estima-se que só com a abertura da creche, sejam gerados à volta de 20 postos de trabalho.
Assim fica mais uma vez demonstrada a importância que dá o Governo Regional a estas áreas, seguindo um caminho de apoio às famílias açorianas que não podemos deixar de enaltecer.


II - Foi com um grande orgulho na nossa cultura que soube que a UNESCO aprovou o Fado como Património Imaterial da Humanidade.  Estamos perante uma distinção criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para a protecção e o reconhecimento do património cultural imaterial, abrangendo as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras.
O Fado representa um povo, uma forma de estar e é inegavelmente um elo de ligação entre os portugueses, sendo reconhecido internacionalmente.
Esta canção nasceu em Lisboa e era cantada e tocada nos bairros típicos da capital, como Alfama e Mouraria. A primeira cantadeira de fado de que se tem conhecimento foi Maria Severa, cigana e prostituta, que residia na Mouraria. Maria Severa era amante do Conde do Vimioso, e o romance entre ambos era tema de muitos dos fados que cantava.
O Fado canta o típico sentimento português, a saudade, canta a nostalgia, o ciúme, e pequenas histórias do quotidiano dos bairros típicos de Lisboa, temas estes permitidos pela censura dos tempos do Estado Novo. Todo o tipo de letras que alertasse para temas sociais eram proibidos pela censura.
É por esta altura que surge Amália Rodrigues que iniciou o que se designa de fado moderno. A voz de Amália levou a nossa canção e o nosso povo além-fronteiras, trazendo uma nova dimensão à canção nacional. De então até aos nossos dias, muitos outros seguiram as pisadas de internacionalização do fado, levando-o aos top´s nacionais e da "world music" e a um público mais jovem.
Mas o fado não deve ser visto apenas como uma canção. Estamos perante o património de um povo, que foi agora reconhecidamente distinguido pela UNESCO. Numa altura em que tudo parece dominado pela crise, são notícias como esta que nos fazem ter orgulho em sermos Portugueses!

Horta, 5 de Dezembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Estação Rádio-Naval da Horta


(Artigo Tribuna das Ilhas - 25/11/2011)

O eventual encerramento da Estação Rádio-Naval na ilha do Faial é um assunto que tem feito rolar muita tinta ao longo dos últimos anos. A Estação Rádio-Naval está instalada na nossa ilha há várias décadas e obviamente os faialenses defendem a sua manutenção no Faial.
No decorrer da campanha eleitoral para as últimas legislativas nacionais este assunto ganhou especial importância. Aproveito para reiterar que, por muito que alguns queiram colocar entre aspas o título de um jornal, fazendo crer que é uma citação minha, não fazem disso as minhas palavras. Mais ainda quando não é feita a devida contextualização. São formas de fazer política, levadas à exaustão por alguns, porventura por falta de melhores argumentos.
Neste momento o que importa é o futuro e que os nossos eleitos defendam e consigam cumprir aquilo com que se comprometeram e aquilo para o qual foram eleitos para fazer.
Assim, os deputados açorianos eleitos pelo PSD para a Assembleia da República perguntaram por requerimento dirigido ao Ministro da Defesa que juízo faz o Governo sobre o conteúdo, os custos e o modo como foi conduzido o processo de encerramento da Estação Rádio-Naval da Horta.
Julgo que este tipo de comportamento deve ser aplaudido. Quando alguém eleito pela nossa terra tem acções tendentes à resolução de um problema que perturba os faialenses então a nossa posição é a de elogiar.
No entanto, e visto a questão ter especial importância para o Faial e, especialmente ter adquirido muito relevo no contexto da campanha eleitoral, admito que estava à espera de mais esforços nesta área.
Passaram-se 5 meses sobre as eleições e aguardávamos sobre a Rádio-Naval mais do que uma pergunta, ainda para mais tendo em atenção o panfleto que foi distribuído pelo PSD da ilha do Faial, no decorrer da campanha eleitoral, com ataques pessoais sobre o assunto, insistindo numa forma de fazer política que em nada dignifica os seus agentes.
A pergunta colocada ao Sr. Ministro é uma boa medida mas, esperávamos nesta altura, que o Sr. Ministro já tivesse dito o que pensa sobre o assunto.
É com grande expectativa que aguardamos pela resposta, visto que, como todos bem sabemos, a possibilidade de não encerramento da Estação Rádio-Naval na Horta está sobre a mesa há algum tempo.
O que sabemos neste momento é que os deputados do PSD-Açores na República ainda estão a perguntar, e que o Sr. Ministro ainda vai pensar na resposta que poderá dar sobre o assunto.
Quanto tempo será ainda necessário para pensar no assunto?
Por outro lado, não queremos acreditar que possa haver alguma tentativa de aproveitamento político relativamente a este assunto.
Será que a Estação Rádio-Naval poderá manter-se na Horta apenas devido a uma questão de forte restrição financeira, que impossibilita o seu desmantelamento neste momento, e haverá unicamente um protelar dessa decisão de transferência? Será que o Governo da República prevê adiar por mais algum tempo a saída da Estação Rádio-Naval da Horta, mas acabando por haver essa decisão assim que as condições financeiras o permitam?
Se a resposta do Ministro for positiva será essa efetivamente uma decisão de manutenção da Estação Rádio-Naval na Horta ou apenas mais uma manobra política do PSD?
Esperamos todos que estejamos perante a primeira opção.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

As diferentes formas de renovação


(Artigo Tribuna das Ilhas 11/11/2011)
O actual Presidente do Governo Regional não se recandidatará às próximas eleições regionais de 2012.
Não posso deixar de realçar a grande ética demonstrada por esta decisão que, de resto, já tinha sido anunciada no seu discurso de vitória nas últimas eleições, em 2008. Mais ainda quando todos sabemos que, muito provavelmente, tinha assegurada nova eleição.
Carlos César deu o seu melhor em prol dos Açores e isso é inegável. A nossa Região é hoje completamente diferente do que era em 1996, quando tomou posse. No entanto, e no mais completo respeito por todos os princípios democráticos, está na altura da renovação. E a renovação far-se-á na pessoa de Vasco Cordeiro que traduz uma nova geração de políticos disposta a lutar pelos Açores. Tal como Carlos César, é mais um apaixonado pela nossa terra que, não duvido, fará o melhor pelos Açores.
O facto de Vasco Cordeiro ter sido apontado por unanimidade dentro dos órgãos do Partido Socialista, apenas demonstra que o Partido estava unido até agora, e que, continuará unido daqui para a frente. As sucessões nos partidos tendem a gerar lutas internas. E era por isso que aguardava o PSD-Açores. A sucessão de Carlos César foi pacífica e contou com o forte apoio dos outros possíveis candidatos, o que deixou a oposição nervosa.
Esta notícia gerou alguns comentários como "Não basta mudar as caras, nem rodar de cadeiras, é preciso mudar de pessoas, de políticos e de políticas", e que um "novo ciclo político" se está a iniciar na Região.
Isto vindo de alguém que está na vida política activa ininterruptamente desde 1980, que em 1996, quando Carlos César tomou posse, fazia parte do Governo de Mota Amaral (tendo estado 16 anos no poder) e que é ainda, a líder do maior partido da oposição em 2011! Ou seja, Berta Cabral já andava nestas andanças políticas quando Vasco Cordeiro ainda era estudante!
É este Partido sem a mínima capacidade renovação que queremos para governar os Açores?

Tão ou mais importante do que termos uma nova geração de políticos a governar, é continuarmos a ter governantes que, como Carlos César, coloquem os Açores sempre como principal preocupação das suas decisões, independentemente do Partido que esteja no poder na República. E neste campo Berta Cabral já deixou claro, com variados exemplos, que presta vassalagem ao partido a nível nacional. O caso mais recente foi a RTP-Açores. Ao Plano de Sustentabilidade Económica e Financeira da RTP, Berta Cabral acena com satisfação! Como pode estar satisfeita? Se a emissão é reduzida a uma janela de 4 horas diárias e são definidos cortes na despesa, que se traduzirão em despedimentos de trabalhadores?

Quando um Governo atenta contra a nossa Autonomia, nomeadamente o Ministro Miguel Relvas, refere que "As audições das Regiões Autónomas são um mau hábito que tem de acabar”, Berta Cabral demonstra o seu contentamento. Esquece-se o Sr. Ministro que o dever de audição das regiões autónomas, relativamente às questões respeitantes a essas mesmas regiões, está constitucionalmente consagrado.
Por seu lado, e em prol da defesa dos nossos interesses, o governo regional vai avançar, em conjunto com um grupo de cidadãos, com uma providência cautelar em tribunal visando suspender as medidas anunciadas pelo Ministro Miguel Relvas.
E na senda da defesa dos interesses dos Açorianos, recentemente o Governo Regional apresentou a proposta de Orçamento da Região para 2012, orçamento esse que tenta minimizar os constrangimentos da situação difícil que atravessamos, no sentido de combater algumas das medidas draconianas do Governo PSD na República. A despesa pública é reduzida e são canalizados apoios para as empresas e famílias açorianas.
Há uma redução de 5,3% nas despesas de investimento no Plano para 2012, sendo que o Faial é a terceira ilha com mais investimento. Estão alocados 11,1 milhões de euros para o plano de apoio às famílias e 13 milhões de euros para apoios às empresas. São ainda reforçadas em 22 milhões de euros as transferências para o Serviço Regional de Saúde, enquanto que no Continente é esta a área mais fustigada pelo governo de Passos Coelho.
Numa altura de crise como a que vivemos a aposta nas famílias e empresas é essencial! A aposta na nossa terra é sempre essencial. Os Açores não podem ser vistos como um custo para o País, como pretende este Governo, com o apoio da líder do PSD-Açores, que se coloca do lado do Partido a nível nacional, em todas as decisões, mesmo que prejudiquem os Açorianos.

Horta, 08 de Novembro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O execrável Orçamento de Estado para 2012

(Artigo Tribuna das Ilhas - 21/10/2011)
O Primeiro-Ministro apresentou ao país o mais gravoso Orçamento de Estado de que há memória desde o 25 de Abril! O mais agressivo para as famílias e empresas, o mais oneroso para os funcionários públicos, o mais ofensivo para os reformados. Um orçamento que, segundo as contas do Governo, irá provocar níveis recorde de recessão e desemprego no ano de 2012.
De entre as medidas anunciadas, muitas delas com um forte cariz neo-liberal, destacamos, o fim do subsídio de Natal e de férias para a função pública e pensionistas (no mínimo durante dois anos), o aumento do IVA de grande parte dos produtos da taxa média para a taxa máxima, o aumento do horário de trabalho no sector privado para mais 30 minutos por dia, limites para as deduções de despesas de saúde e de habitação em sede de IRS, reduções drásticas no orçamento do sector da saúde e educação, privatizações ao desbarato e ainda subidas de quase todos os impostos.
Aqueles que agora impõem estas medidas são os mesmos que fizeram cair o Governo anterior, referindo que os portugueses não suportavam mais cortes nos seus salários e pensões.
Em Maio de 2011, antes das eleições nacionais, perguntava Passos Coelho ao País, "Como é possível manter um governo em que um Primeiro-Ministro mente?"
Durante a campanha eleitoral ouvimos Passos Coelho defender que não se podia aumentar a receita, aumentando mais impostos, que o Estado tinha de dar o exemplo, que eram sempre as famílias e as empresas as mais penalizadas, ou então, os funcionários públicos, aqueles que não têm como fugir aos cortes. Dizia ainda que os sacrifícios eram geridos sem justiça e equidade, que o reequilíbrio orçamental não deveria ser atingido à custa da receita fiscal, que com um Governo PSD não haveria mais ataques à classe média. Afirmava que não bastava um plano de austeridade que cortasse cegamente, que acabar com o 13.º mês era um disparate e garantia que um ajustamento fiscal incidiria sempre nos impostos sobre o consumo e nunca agravaria os impostos sobre o rendimento. Declarou mesmo “Comprometo-me perante os Portugueses a não cortar mais salários”.
Querem mais exemplos? Ou estes chegam para atestar e avivar o conceito de mentira?
O denominado "buraco colossal" agora encontrado nas contas de 2011 e que está a ser utilizado como desculpa para o Orçamento de 2012 tem de ser explicado.
O 1.º Ministro acena com a ideia de que as medidas de austeridade do Orçamento de 2012 são suas, mas que apenas serão impostas devido ao défice já existente, fazendo passar a ideia que o desvio agora encontrado é da responsabilidade do Governo anterior.
No entanto, a própria Comissão Europeia veio já desmentir o Primeiro Ministro, afirmando que o desvio das contas em 2011 se deve aos acontecimentos na Madeira e a um contexto de travão na actividade na Europa que, afecta, naturalmente, a economia portuguesa.
As medidas de austeridade introduzidas pelo Orçamento de Estado para 2012 vão muito para além do acordo firmado com o Troika. As medidas constantes desse acordo eram suficientes para compensar as dívidas dos governos anteriores.   Tal como a advertiu a Comissão Europeia, é efectivamente necessário aplicar medidas de austeridade, mas de uma forma inteligente e que não prejudiquem o crescimento. Exactamente o oposto do que se vê neste Orçamento de Estado.
Já todos sentimos no nosso dia-a-dia os efeitos da austeridade. Mas tenho uma sensação de "dejá-vu", perante a realidade. Onde é que já vimos isto? Tanta austeridade que levou ao completo colapso da economia? Queremos que Portugal seja uma 2.ª Grécia?
Onde estão as medidas para a revitalização económica? A saída deste buraco faz-se através de um crescimento económico, que tem de passar necessariamente por uma reforma estrutural, consolidando as contas públicas e introduzindo medidas geradoras de emprego.
Todos sabemos que é difícil, era óbvio que nada disto se ultrapassaria sem mais medidas de austeridade, mas nunca esperaríamos que fosse apresentado um Orçamento de Estado tão castrador e sem se dizer uma palavra quanto ao crescimento económico!
"Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos", dizia o Presidente da República em Março de 2011.
Nesta, e apenas nesta, concordo com Cavaco Silva!

Horta, 18 de Outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

I - Voluntariado, o exemplo da comunidade Açoriana nos EUA; II - Uma catástrofe chamada Madeira

(Artigo Tribuna das Ilhas - 07/10/2011)

I - Voluntariado, o exemplo da comunidade Açoriana nos EUA
Estive recentemente nos Estados de Massachusetts e Rhode Island (EUA) e pude testemunhar o dinamismo que a comunidade açoriana possui nesta região.
Um excelente exemplo disso mesmo, entre tantos outros que poderíamos citar, é o Grupo Amigos da Terceira, que tem a sua sede em Pawtucket, Rhode Island, fundado em 1988, pelo Sr. Vítor Santos. Ao contrário que o nome indica, é mais que um grupo de amigos da Terceira, visto ter uma dimensão tal (800 sócios activos), que já pode ser considerado um grupo de amigos dos Açores e mesmo de Portugal, reunindo pessoas de todas as regiões do País.
O Grupo tem uma grande sede, um magnífico salão de festas, bar e um restaurante onde podemos usufruir das mais saborosas típicas refeições açorianas e onde tive o prazer de jantar e ficar assim a conhecer um pouco da obra deste Grupo, graças a uma visita guiada e explicação feita pelo Sr. Vítor Santos. Organizam peças de teatro, folclore e chamarritas, celebram o Espírito Santo como cá, preparam diversas festas e eventos, enfim, tentam proporcionar aos seus sócios um pouco do sabor da nossa terra, com o intuito de mitigar as muitas saudades que se instalam ao longo das suas vidas como emigrantes.
O Grupo tem por objectivos ajudar famílias necessitadas na Nova Inglaterra, casas de caridade nos Açores, Madeira e Continente, divulgar eventos para manter a cultura Portuguesa naquela região e ainda atribuir bolsas de estudo.
O Grupo vive da solidariedade dos seus sócios e a comunidade açoriana junta-se à volta desta organização, cada um contribuindo como pode, com o seu dinheiro e com o seu trabalho voluntário. O povo açoriano é, por natureza, um povo solidário. Isso nota-se no nosso dia-a-dia, mas há situações em que esse espírito de comunidade se torna mais forte. Esse espírito é por demais notório nas comunidades emigrantes, unem-se à volta da saudade que sentem da sua terra e dão o melhor de si, sem esperar qualquer retorno económico, num espírito único de voluntariado, para ajudar, em prol da sociedade. É esse sentimento de entreajuda que os move, um sentimento tipicamente açoriano e que todos bem conhecemos.
Por cá alguns oferecem duas impressoras a uma Casa do Gaiato em Ponta Delgada e chamam os órgãos de comunicação social. Nas comunidades emigrantes a típica solidariedade açoriana e a vontade de deixar uma marca na sociedade é assim, não necessita publicidade, sente-se no discurso destas pessoas quando falam da sua instituição e na obra que deixam por aquelas paragens!
Bem hajam os nossos emigrantes, e bem haja o Grupo Amigos da Terceira pelo trabalho benemérito que realiza há mais de duas décadas.

II - Uma catástrofe chamada Madeira
Num artigo passado chamei a atenção para o facto da Troika ter descoberto um buraco nas contas da Madeira de 277 milhões de euros. Isso foi em Agosto e era uma pequenina gota de água no oceano que se seguiu. Daí até hoje os valores veiculados pela comunicação social foram aumentando, até que, há poucos dias, o Ministro das Finanças, veio afirmar que a dívida madeirense é de 6.328 milhões de euros, cerca de 123% do PIB da região!!
Como pode haver uma "des"governação tão descontrolada que leve a que o défice das contas públicas assuma esta proporção, em que se omite propositadamente as contas? Como pode alguém rir-se na cara de todos os contribuintes e dizer que não se importa com a dívida? Os erros dos sucessivos governos da República já começaram a ser cobrados aos Portugueses. Todos nós já começamos a pagar o preço pelo buraco nas contas públicas. Só Alberto João Jardim segue impune a rir, de inauguração em inauguração...com a complacência de alguns!
Aproximam-se as eleições na Madeira...resta-nos esperar que tal comportamento seja punido já nas urnas no próximo dia 9 de Outubro.
Agora pagarão os madeirenses por tamanha desgovernação, pois de certeza que essa Região será sujeita a medidas adicionais de austeridade a somar às medidas do acordo firmado pela Troika.
Da nossa parte resta-nos aguardar para que não paguem também os Açorianos. A governação nos Açores levou-nos a trilhar um caminho bem diferente do da Madeira, o que já foi comprovado pelas instâncias nacionais e internacionais.
A Lei das Finanças Regionais será alterada por determinação da Troika. Não podem os Açores e os Açorianos vir a ser penalizados por uma situação para a qual não contribuíram. Nessa altura, deverão todos os representantes dos Açorianos explicar preto no branco, ao Governo da República, a diferença entre as duas Regiões.
É triste, mas algumas forças políticas da nossa Terra tendem fazer crer que nos Açores a situação é muito parecida, isto quando os números assim o desmentem. Uma vergonhosa e perigosa tentativa de aproveitamento político que só serve para prejudicar os Açores e os Açorianos.    
 Horta, 4 de Outubro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O novo Porto da Horta

(Artigo Tribuna das Ilhas - 23/09/2011)


A frente marítima da nossa cidade está a mudar. A obra do Porto vai alterar não só a face da cidade da Horta, mas também dotá-la de uma importantíssima infra-estrutura. Estamos perante uma grande obra, apesar de alguns diligenciarem, das mais diversas formas, no sentido da sua desvalorização, na qual serão investidos 32 milhões de euros, apenas na primeira fase, o que representa um dos maiores investimentos realizados em áreas portuárias na Região.
Com as ligações marítimas de passageiros entre todas as ilhas dos Açores por navios ferries e o constante aumento das escalas de navios de cruzeiro, revelou-se da mais extrema importância melhorar as condições de operacionalidade e de ordenamento do actual Porto da Horta.
Aquando da última campanha eleitoral para as Legislativas Nacionais, tive a oportunidade de reunir com o Conselho de Administração da APTO, S.A., a fim de tomar conhecimento dos factos sobre esta obra. Porque muito se fala por aí, mas o importante é termos acesso aos factos. Fui esclarecida sobre os meandros da obra e tentarei passar ao leitor a informação que me foi disponibilizada.
Fiquei a saber que a obra em execução compreende um molhe-cais, com cerca de 400 m de comprimento, dispondo de um cais acostável, no lado interior, com um comprimento útil de 265 m, destinado às operações dos ferries inter-ilhas e também de alguns navios de cruzeiros.
O novo porto terá uma ponte-cais acostável pelos dois lados, com um comprimento util de 80 mts e 10 mts de largura, para servir as embarcações de passageiros do Triângulo.
Foi construído um terrapleno, onde serão implantadas as instalações terrestres de apoio ao terminal, nomeadamente, gare de passageiros, que  incluirá instalações para os diversos serviços oficiais envolvidos nas operações portuárias, parques de estacionamento automóvel, depósito de água para alimentação aos navios e depósitos de combustíveis. A infra-estrutura disporá ainda de redes técnicas de abastecimento aos navios de água, energia eléctrica, telecomunicações e combustíveis.
Entretanto, foi lançada e adjudicada, uma nova empreitada de “Rebaixamento da Cota de Fundação do Molhe-Cais da Bacia Norte e Aumento da Cota de Coroamento do Terminal de Passageiros do Porto da Horta”, o que permite que esta atinja os – 8,00 m.
O valor de adjudicação desta empreitada é de 2 milhões de euros, com um prazo de execução de 12 meses. Os trabalhos de execução da mesma decorrem em simultâneo com os trabalhos normais da empreitada em curso, pelo que esta não implicará prolongamento do prazo final.
Com esta nova empreitada pretende-se adequar esta importante infra-estrutura, não só à operação dos navios ferries previstos para o transporte futuro de passageiros na Região, mas também permitir a operação de navios de cruzeiro de turismo que escalam os portos do arquipélago. Pretende ainda responder às preocupações emergentes da Conferência de Copenhaga, incluída no âmbito da Convenção-Quadro das Alterações Climáticas da ONU, relativamente à subida do nível médio dos oceanos em resultado do aquecimento global do planeta.
Posteriormente, foi ainda lançada e adjudicada uma terceira Empreitada de Construção de Três Rampas Ro-ro no Terminal de Passageiros do Porto da Horta, pelo valor de 2 milhões de euros, cujo prazo de execução é de 12 meses, contados desde 07/02/2011.
Assim, no final do 1.º semestre de 2012, ficará concluída a 1.ª fase da empreitada de “Requalificação e Ordenamento da Frente Marítima da Cidade da Horta”, ficando as infra-estruturas portuárias terminadas.
Para uma 2.ª fase fica a reabilitação da frente marítima da Cidade da Horta, que irá incluir, entre outros, a criação de um parqueamento em terra para embarcações, a intervenção no largo Manuel de Arriaga, a construção de infra-estruturas de apoio às actividades marítimo-turísticas, a ampliação da Marina e a construção de pontões para mega iates, o que somará um investimento na nossa ilha superior a 55 milhões de euros. O investimento nas acessibilidades marítimas é essencial para o desenvolvimento das nossas ilhas, e assume particular acuidade nas ilhas do Triângulo, cujo movimento anual de passageiros ascende, apenas no canal Faial-Pico, aproximadamente, a 400.000.
É indesmentível que a melhoria das acessibilidades levará a que mais pessoas se desloquem de ilha para ilha, ficando a ilha do Faial com melhores condições para receber os que nos visitam e servir os que cá vivem, trazendo uma importante dinamização à economia local e regional, que bem precisamos. É de frisar que as condições dos transportes ficarão muito mais dignas que as actuais.
Perante os factos, torna-se igualmente indesmentível, que o investimento realizado e a realizar na obra do Porto da Horta é vital para o desenvolvimento da nossa terra. Vem igualmente trazer uma nova dimensão  à "Horta Cidade Mar".  Os faialenses, e os açorianos em geral, ficarão melhor servidos. Como faialense estou satisfeita por este investimento estar a ser realizado na nossa ilha. Não compactuo com bota-abaixismos e tentativas de  desconsideração do trabalho difícil que é realizado, em condições económica e financeiramente tão adversas como as que experienciamos.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Quem quer acabar com a RTP-Açores?

(Artigo Tribuna das Ilhas - 09/09/2011)

Na semana passada os açorianos foram confrontados com uma triste decisão do Governo da República: as emissões da RTP-Açores passam a ser de 4 horas diárias.
No dia em que escrevo estas linhas, ficámos a saber, após reunião do Secretário Regional da Presidência com o Presidente do Conselho de Administração da RTP, que afinal manter-se-á o horário de funcionamento da RTP-Açores, mas com uma concentração da produção local das 19 às 23 horas. Em que é que ficamos?
Infelizmente para todos nós, os receios trazidos a público por parte do PS-Açores, na última campanha eleitoral para as legislativas nacionais, confirmaram-se. Estamos perante um ataque sério à nossa autonomia!
O Ministro Miguel Relvas comunicou aos deputados, e ao País, esta fatídica decisão, numa comissão parlamentar da qual, por acaso, até faz parte uma deputada eleita pela nossa ilha.
É lamentável a forma como o Sr. Ministro fala dos Açores, usando expressões, que apenas demonstram uma falta total de conhecimento da nossa realidade autonómica e arquipelágica. Diz o Sr. Ministro ‎"...os Açores não são mais nem menos que uma qualquer região mais desertificada do Continente”…Os Açores, Sr. Ministro, são compostos por 9 ilhas! Do Corvo a Santa Maria distam mais de 630 km, ou seja, os açorianos do Corvo estão mais longe dos açorianos de Santa Maria, que os portuenses dos algarvios. No entanto, somos todos açorianos e todos temos os mesmos direitos! A RTP-Açores é um veículo que liga as nossas ilhas. Através dela os açorianos do Corvo sentem-se mais perto dos açorianos de Santa Maria, os faialenses podem saber o que se passa na Graciosa, e por aí fora, e assim, estamos todos efectivamente mais próximos, o que ajuda a transpor a barreira física que nos separa, o imenso Mar.
Mas não só os açorianos que residem nos Açores se sentem mais próximos e em contacto com a nossa realidade, como a RTP-Açores vem aproximar a nossa terra das comunidades emigrantes, cujo número é maior que os próprios açorianos que cá residem. É sabido o papel relevantíssimo que tem a nossa televisão junto da diáspora. Tanto assim é, que o Conselho Mundial das Casas dos Açores manifestou descontentamento com a decisão anunciada, considerando-a “lesiva dos interesses do povo açoriano”.
E diz o Sr. Ministro que tem uma "visão dinâmica" da autonomia! Eu qualificaria a visão do Ministro de francamente redutora, por puro desconhecimento da nossa realidade!
A RTP/Açores emite 8.736 horas por ano, das quais 6.734 horas são da directa responsabilidade do Centro Regional, sendo 4.680 horas da área de Programas e 2.054 horas da Informação.
Programas e profissionais de grande qualidade. O que lhes acontecerá com 4 horas de programação regional? O que será de programas, muitos deles em directo, que acompanham o dia a dia do nosso Povo como "Bom dia", "Prova das 9", "O Estado da Região", "Estação de Serviço", "Águas Vivas", "Atlântida", "Parlamento", entre tantos outros? O que será dos diversos documentários de produção regional que falam do nosso Povo, como por exemplo  "Os nomes da nossa gente", "Ilhas Míticas" e "Mar à vista"? O que será dos directos que nos habituamos a ver das diferentes ilhas, como o Dia da Região, o desfile da Semana do Mar ou o Senhor Santo Cristo dos Milagres? Mas uma questão que também me preocupa é: que acontecerá aos profissionais que aí trabalham? Porque não se pode fazer ninguém acreditar que serão necessários os mesmos profissionais existentes actualmente quando serão transmitidas apenas 4 horas diárias de produção regional.
O Governo da República tem certas obrigações perante as Regiões Autónomas: esta é uma delas. O contrato de concessão do serviço público de televisão prevê serviços de televisão próprios para as Regiões Autónomas. Ou o estabelecido no contrato é para esquecer?
O Governo da República baseia esta sua decisão num argumento economicista: a RTP-Açores custa muito dinheiro. Ora, segundo o Correio dos Açores " No ano passado a RTP gastou 114,2 milhões de euros em custos de grelha (mais 6% que no ano anterior), o que dava para pagar a grelha da RTP-Açores durante quase um século!"
Aguardamos todos  um comentário da líder do PSD-Açores, que à data em que escrevo, ainda não se pronunciou. O seu silêncio é ensurdecedor e confrangedor, uma verdadeira machadada nos desejos da maioria dos Açorianos.
Mas interessa saber a posição dos deputados açorianos eleitos pelo PSD-Açores à Assembleia da República. No lugar de se pronunciarem em sede de comissão parlamentar, quando a medida foi anunciada, dirigiram posteriormente um requerimento ao Governo, questionando a intenção anunciada pelo Governo. Questionando?? Deviam era indignar-se, insurgir-se, protestar e reagir para defender os Açores e os Açorianos. Foi isso que andaram a pregar em campanha eleitoral, foi para isso que foram eleitos! Não deixem acabar com a RTP-Açores!

Horta, 05/09/2011

sábado, 3 de setembro de 2011

Formas de fazer política…ou a arte de disfarçar a ausência de ideias!


(Artigo Tribuna das Ilhas - 26/08/2011)

No final do passado mês de Julho os faialenses receberam, via correio, um boletim informativo, o tal colorido a laranja, em papel de alta qualidade, e com uma tiragem de 6.000 exemplares, da responsabilidade do PSD-Faial, o que parece evidenciar uma capacidade financeira acima da média para a altura de dificuldade que todos experienciamos.
Pelos vistos o proliferar de ataques políticos nos jornais locais (uma das razões que me fez aceitar o convite de aqui escrever), a utilização das redes sociais e o sucessivo uso da rádio e televisão não eram suficientes.
No entanto, o bolso de cada a cada um diz respeito, pelo que passemos ao conteúdo. A política vive da capacidade de cada um fazer singrar as suas concepções e de conseguir passá-las para o lado do eleitorado.
E nesse combate político cada um luta da melhor forma que sabe, e com o melhor que tem. Ultimamente a forma que o PSD-Faial utiliza para o fazer é do mais populista que há, numa sede de poder injustificável.
Onde estão as ideias? Onde estão as pessoas? Pessoas novas que defendam as vossas ideias. Que isto de serem sempre os mesmos há mais de uma década diz muito da capacidade de renovação de um partido, da sua capacidade de agregar gente nova, com novas ideias, e que queira lutar por um futuro melhor para a nossa terra.
Onde estão as propostas? Neste boletim, conseguimos ler uma palavra positiva para o Parque Natural de Ilha do Faial. Ao menos aí conseguem reconhecer o excelente trabalho que está a ser desenvolvido pelos seus responsáveis, e que levou que o nosso Parque Natural fosse galardoado, a nível europeu, com o prémio Éden, que designa anualmente os Destinos Europeus de Excelência, sendo o nosso Parque Natural o primeiro ‘Destino de Excelência da Europa' em Portugal.
O que é necessário e fundamental para a credibilidade de um partido é que haja, acima de tudo, coerência. Não faz sentido nos Açores exigir ao Governo Regional a continuação em funcionamento de certas escolas, quando no Continente, o Governo de Passos Coelho anunciou recentemente que serão encerradas 297 escolas do 1.º ciclo do Ensino Básico, no próximo ano lectivo. O que dirá o PSD-Faial sobre isso? Provavelmente, nada! Tal como não disseram nada, quando os deputados eleitos pelo PSD-Açores à Assembleia da República votaram a favor da receita do imposto extraordinário cobrado nos Açores ir para o Continente, o que ademais levanta sérias dúvidas de inconstitucionalidade. Não disseram nada porque não há como justificar que os deputados eleitos por um partido para um órgão de soberania nacional, na primeira oportunidade, contrariem o seu próprio partido na Região.
Relembro os caros leitores, que a Comissão Permanente da Assembleia Legislativa Regional, onde estão representados todos os partidos com assento parlamentar, aprovou, por unanimidade, uma deliberação defendendo que a receita do imposto extraordinário cobrado nos Açores fique, obviamente, na Região.
O que se verifica nesta matéria é uma total descoordenação e incapacidade do PSD Regional em influenciar o PSD da República. Nem sequer consegue que os seus deputados, eleitos pelos Açores, defendam a região e votem em nosso favor, contrariando o que andaram a dizer ainda recentemente em campanha eleitoral. Quem não consegue gerir a sua casa numa questão aparentemente tão simples, pode criticar ou mesmo ter a veleidade de achar que está minimamente preparado para gerir a Região e defender os Açorianos? Mais uma vez o PSD Açores e o PSD Faial assobia para o lado, como se nada tivessem a ver com o assunto.
Quem lê este boletim fica com a ideia que tudo está mal no Faial. Com toda a certeza, nem tudo está bem. Mas, numa época como a que atravessamos, de forte constrangimento e medidas de austeridade, ainda são feitos grandes investimentos na nossa ilha, como a obra do Porto da Horta, orçado em 32 milhões de euros ou as obras do novo Bloco C do Hospital, que terão agora o seu início, e cujo investimento será de 11 milhões de euros.
Por outro lado, não posso deixar de sublinhar que, ao contrário do que pretende fazer passar reiteradamente o PSD-Açores, a Troika, na última reunião que teve com os Governos Regionais, veio confirmar o bom desempenho financeiro da nossa Região. Afinal as contas públicas açorianas estão de boa saúde, ao contrário das da Madeira, cujo buraco financeiro conta já com um défice de 277 milhões de euros (um dos principais responsáveis pelo "desvio" agora detectado que vamos pagar com um "colossal" imposto sobre o subsídio de Natal). Afinal a Região Autónoma dos Açores, conforme foi constatado pela Troika, contribui para equilibrar as contas públicas nacionais, enquanto que outras Regiões cooperam no resvalar das contas do país.
Afinal, a situação financeira dos Açores está controlada e devemos todos continuar a trilhar este caminho, e tentar sempre fazer mais e melhor, pelos Açores e por todos nós!

SEMANA DO MAR – FAIAL EM FESTA


(Artigo Tribuna das Ilhas - 12/08/2011)

Cá está ela. A maior semana de festa da ilha do Faial e uma das maiores referências na animação de Verão do Arquipélago. Escrevo estas notas no decorrer da Semana do Mar, festa que traz grande dinamização e notória alegria à nossa terra e às nossas gentes e que conta já com 34 edições.
Actualmente a festa estende-se por 10 dias, durante os quais tem lugar o maior festival náutico do País, com um leque diversificado de iniciativas a decorrer na nossa baía, nomeadamente nas modalidades de canoagem, vela de cruzeiro, vela ligeira e remo. São 18 as modalidades em prova, que congregam cerca de 1000 praticantes, o que demonstra a grandeza do evento e o excelente trabalho realizado pelo Clube Naval da Horta.
Destaco a tão participada Regata dos Botes Baleeiros, que embeleza a nossa baía, trazendo-lhe um colorido especial, com dezenas de participantes e centenas de espectadores.
Esta semana abriu da melhor forma com a realização da regata internacional "Atlantic Trophée", que projecta o nome da ilha do Faial além fronteiras e que dá a conhecer a nossa baía e a excelente qualidade da nossa marina a potenciais visitantes, e ainda com a presença no nosso porto do navio escola Sagres.
Considero que nesta edição da Semana do Mar, a organização apostou num cartaz diversificado e de grande qualidade. Isso comprova-se pela realização de 10 grandes concertos no palco principal, onde marcam presença bandas de reconhecido mérito nacional, como por exemplo os "Deolinda", os "Blind Zero" e os "Peste e Sida". No entanto, é de louvar a aposta na "prata da casa", pelo que desfrutámos também de grandes espectáculos por parte dos originais "Bandarra" ou dos "Rock 4U", duas bandas faialenses de excelente qualidade e que já dispensam apresentação.
No palco da Avenida 25 de Abril desfilarão 10 grupos de música tradicional popular, e seguindo a aposta, reconhecidamente ganha, na nossa cultura, 9 filarmónicas actuarão no Palco do Largo do Infante.
Marca novamente presença a Feira Gastronómica, com 5 restaurantes, sendo que três são locais, onde podemos desfrutar das mais diversas iguarias do nosso país.
É de realçar a excelente qualidade da Feira do Livro, que conta com inúmeras publicações nacionais, regionais e até locais, área que tem vindo a ter um positivo desenvolvimento.
Estão ainda patentes, nomeadamente no Banco de Portugal e Fábrica da Baleia, as mais diversificadas exposições, das quais realço a exposição colectiva de pintura, organizada pela Hortaludus e Câmara Municipal da Horta, o artesanato em osso e madeira, organizada por Manuel Humberto Vieira e ainda os trabalhos regionais executados manualmente, organizado por Elsa Borges Toste, entre outras.
A par deste programa decorre a organização do Parque da Juventude, no Parque da Alagoa, com animação after hours, para o pessoal mais jovem, e que conta com a presença de diversos DJ's, para movimentar e dar alegria à vida nocturna faialense.
Este ano voltam a marcar presença na Marina da Horta, a Expomar, bem como a Feira Regional de Artesanato, duas iniciativas que merecem destaque e já não dispensam uma visita.
E temos ainda o corso etnográfico, subordinado ao tema do Parque Natural de Ilha do Faial. Brilhante opção por parte da organização. Mais uma forma de publicitar o nosso Parque Natural, recentemente galardoado com o prémio Éden (Destinos Europeus de Excelência). As ruas enchem-se para assistir ao corso, que nos tem habituado a agradáveis surpresas, com uma grande imaginação, por parte das juntas de freguesia, juntando uma pitada de competição saudável, em que cada freguesia quer naturalmente evidenciar-se.
Esta semana dá vida à nossa ilha, dinamiza o tecido económico. Os hotéis estão cheios, os restaurantes lotados, as rent-a-car esgotadas.
Os voos para a Horta avolumam-se, dá gosto ver o movimento, a quantidade de turistas, muitos dos quais emigrantes, que aproveitam esta altura para regressar à sua terra e festejar na companhia dos familiares.
Semana do Mar significa comer e beber com os amigos, matar as saudades dos familiares que há muito não se via, significa o juntar de muitas famílias separadas durante todo o ano. É tudo isso e muito mais! É ver a cidade a pulsar festa, as pessoas a gozarem o Verão e de, certa forma, a ganharem energia para o Inverno! É um recarregar de baterias!
Quem cá vive deve sentir orgulho em ser faialense! Eu sei que sinto! Os meus sinceros parabéns à organização, nomeadamente à Câmara Municipal e Clube Naval da Horta, que, numa altura de crise como a que infelizmente experienciamos, conseguiram proporcionar aos faialenses mais uma excelente Semana do Mar!
A todos deixo um apelo, divirtam-se, aproveitem, gozem a festa ao máximo!
Haverão alguns que no fim conseguirão arranjar forma de mal-dizer... quiçá através de panfletos coloridos a laranja que o estimado leitor poderá receber na sua caixa de correio…nada a que não estejamos habituados! 

I - Falta de coerência; II - Horta, uma das mais belas baías do Mundo


(Artigo Tribuna das Ilhas - 29/07/2011)
I
Foi aprovado na generalidade no passado dia 22 de Julho, na Assembleia da República, uma Proposta de Lei do Governo para a criação de um novo imposto extraordinário que incide sobre o IRS, com os votos contra de toda a oposição.
Conforme é referido no próprio diploma esta sobretaxa é uma medida de carácter extraordinário para acelerar o esforço de consolidação orçamental e como o próprio Ministro das Finanças admitiu, trata-se apenas de uma medida de prudência, não estando sequer contida no memorando negociado com Troika.
Esta Proposta estabelece que a receita da sobretaxa extraordinária reverte integralmente para o Orçamento de Estado.
Ora, tanto a Constituição da República Portuguesa, como o Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores, como ainda a Lei de Finanças Regionais, estabelecem que todos os impostos gerados e cobrados no território da Região constituem receita da Região.
Isso mesmo foi admitido pela Presidente do PSD/Açores, referindo, poucos dias antes da aprovação desta Proposta na Assembleia da República, que “nos termos da Constituição e do Estatuto, não há dúvidas que é receita da Região, porque todas as receitas cobradas e geradas na RAA são receitas próprias da Região”. 
No entanto, os seus deputados na República, os deputados eleitos pelo PSD/Açores, discordam. E tanto discordam que votaram a favor da Proposta de Lei do Governo sem pestanejar. Optaram, mais uma vez, por seguir a disciplina partidária na República desconsiderando por completo os interesses dos Açorianos nesta matéria e, convém referi-lo, indo contra a orientação da própria líder regional.
Os Açorianos, principalmente aqueles eleitos pelo povo para representar os seus interesses, seja em que sede for, não podem, em caso algum, permitir um retrocesso da nossa Autonomia.
Sejamos claros, é isso que esta posição agora assumida pelos deputados eleitos pelo PSD/Açores na Assembleia da República consubstancia: um claro despojamento dos nossos direitos, direitos estes constitucionalmente consagrados.
Quem pregava que o PS/Açores não tinha ambição autonómica, e que falhava nos momentos essenciais para os Açores, o que poderá dizer agora??
Estamos perante um momento essencial para os Açores, estamos perante um PSD/Açores que demonstra, mais uma vez,  não ter qualquer influência nas decisões do seu partido a nível nacional!
E quando toca a tomar decisões prejudiciais para os Açorianos? Os Deputados do PSD/Açores na Assembleia da República votam, como cordeirinhos, a favor!
Haja coerência!

II
A nossa baía foi recentemente aceite no Clube das Mais Belas Baías do Mundo, clube este muito restrito, contando apenas com  32 baías a nível mundial. Este deve ser um motivo de grande orgulho para todos os Faialenses.
Este reconhecimento demonstra a elevada qualidade da nossa baía e está directamente relacionada com o grande potencial de desenvolvimento dos Açores.
A Horta assume-se, e deve continuar nessa senda, como a verdadeira Cidade Mar.
Uma das mais valias da ilha do Faial é a sua posição geo-estratégica, que faz com que a nossa baía tenha sido, desde sempre, um ponto privilegiado de ligação  entre os diferentes continentes.
A nossa cidade vive, consome e palpita Mar! Exemplos disso são a quantidade de regatas internacionais da mais elevada qualidade que por aqui passam, a investigação científica de ponta levada a cabo pelo Departamento de Oceanografia e Pescas e ainda um recente proliferar de empresas marítimo-turísticas situadas na nossa frente marítima.
Não posso deixar de referir a nossa Marina, conhecida mundialmente como fazendo parte da rota de todos os velejadores que cruzam estes mares Açorianos.
É vê-la repleta de veleiros, cujos tripulantes cumprem escrupulosamente a tradição de nos deixar a sua "impressão digital", fazendo uma pintura nos seus muros, respeitando assim a lenda de que isso os protegerá de todos os perigos no Mar!
A aceitação da Baía da Horta neste Clube certifica e credibiliza um desenvolvimento sustentado e no respeito pela natureza, aposta da nossa terra.
Leva o nome do Faial e dos Açores cada vez mais longe, demonstra o quão bom somos, mesmo a nível mundial!
Somos nós os primeiros responsáveis por realçar este grande feito da nossa terra! Devemos estar todos extremamente satisfeitos e vaidosos! A  ilha do Faial está de parabéns...no entanto, parece ser apanágio de alguns, ver apenas o lado negativo de todas as coisas.