A autonomia
regional é consequência do 25 de Abril. Na sequência da Revolução dos Cravos,
Portugal entra finalmente num regime democrático e é aprovada a Constituição da
República Portuguesa (CRP).
Os povos
insulares, designadamente os Açorianos, há muito que almejavam a autonomia e
finalmente ela foi consagrada em 1976 na CRP. Hoje podemos dizer que as
autonomias regionais fazem a República Portuguesa mais completa e são um
exemplo do que se pretende com o regime democrático.
Os objetivos
da autonomia regional são a participação democrática dos cidadãos, o
desenvolvimento económico-social e a promoção e defesa dos interesses
regionais, mas também o reforço da unidade nacional e dos laços de
solidariedade entre todos os portugueses.
A autonomia regional
é política, legislativa, administrativa, financeira e patrimonial, mas deve ser
exercida numa lógica de solidariedade. Existem matérias importantes na Região
cuja responsabilidade pertence à República. E obviamente tem de ser assim. Cabe
aos órgãos da república assegurarem, sempre em cooperação com os órgãos de
governo próprio, o desenvolvimento económico e social das regiões autónomas,
visando, a correção das desigualdades derivadas da insularidade. Estas
competências estão consagradas constitucionalmente.
No entanto,
podemos ver hoje, que este poder instalado na República, tudo faz para sacudir a
água do capote quando toca às suas responsabilidades perante as autonomias.
São variados
os exemplos de tentativa de fuga às responsabilidades por parte do governo de
Passos Coelho: são os aeroportos, as obrigações de serviço público, a
RTP-Açores, a Universidade dos Açores ou as recentes declarações do Ministro da
Economia, que veio sustentar
ser da competência da Região Autónoma dos Açores suportar os custos da formação
dos efetivos da PSP no arquipélago. Está em marcha uma estratégia que
não olha a meios, e até quer descriminar os doentes Açorianos que são
deslocados para o continente, por não terem alternativa na sua Região, como se
fossem Portugueses de segunda.
Cada um tem
de assumir as suas responsabilidades. O que cabe aos órgãos de governo próprio
é sua função. O que cabe aos órgãos da República tem de ser assumido por estes!
Os Açorianos não podem deixar que lhes deitem areia para os olhos. Ao Governo neo-liberal
de Passos Coelho já não basta ser mais troikista que a Troika, quer ainda fazer
impender sobre os Açorianos responsabilidades que são, por lei, suas!
Na semana
seguinte a comemorarmos mais uma vez o Dia da Liberdade, que tanta celeuma
levantou este ano, com os Capitães de Abril e, em solidariedade com eles,
também, grandes nomes da nossa história política a se recusarem a participar
nas cerimónias oficiais de celebração, penso que os valores do 25 de Abril têm
de ser, mais que nunca, preservados e defendidos.
O povo não
pode baixar a cabeça a tudo, os Açorianos devem ter consciência de quem os
realmente defende. De quem no passado já deu provas de colocar os Açores à
frente de partidos, de quem não hesitou, um minuto que fosse, na defesa dos nossos
direitos, mesmo que para isso tenha ido contra o que defendia o seu partido na
República.
Na nossa
Região há pessoas, que para defenderem o seu partido na República, que agora
até está no poder, concordam com o líder em tudo, mesmo quando isso vai contra
os Açorianos. Os Açores têm de estar sempre à frente de qualquer partidarismo.
Porque acreditamos nos valores de Abril, mas principalmente porque acreditamos
na autonomia regional e nos Açores, não vamos baixar os braços! Não podemos
assistir calados a este vergonhoso sacudir de água...
Horta, 29 de
abril de 2012
Interessante ouvir utilizar a expressão neo-liberal como um insulto tão pouco tempo depois do Governo de José Sócrates e, em relação a troika, foram e são três os partidos que apoiam esse rumo.
ResponderEliminarTendo em conta o que são as verdadeiras posições do PS, o título "sacudir a água do capote" é muito mais adequado do que se calhar a autora previa...
Caro Tiago,
ResponderEliminarAntes de mais obrigado pelo feedback.
A expressão neo-liberal não foi utilizada de forma insultuosa, mas para caracterizar as políticas do actual governo.
Parece-me que nunca como agora, se consegue ver bem as claras diferenças entre PS e PSD. Efetivamente o PS aprovou o acordo com a troika, mas não as novas medidas aplicadas pelo governo de Passos Coelho e que vão muito além do acordado com a troika.
A utilização da expressão "sacudir água de capote" foi bem pensada caro Tiago ;) A mesma refere-se à desresponsabilização do Governo da República quanto às Autonomias Regionais. Esta é a minha posição, que será sempre a mesma seja qual for o Governo na República.
O feedback é dado com todo o gosto pois, embora seja raro concordar, leio-te sempre com prazer.
ResponderEliminarAgradeço e retribuo as tuas palavras. :)
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