sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Estação Rádio-Naval da Horta - II


(Artigo Tribuna das Ilhas - 24/02/2012)
Infelizmente ficámos a saber que a decisão de encerramento da Estação Rádio-Naval da Horta é irreversível. Em resposta ao requerimento feito pelos deputados eleitos pelo PSD-Açores à Assembleia da República, o Ministro da Defesa do Governo Passos/Portas veio afirmar que a Rádio-Naval será mesmo encerrada. O Ministro explica na sua resposta que devido a avanços tecnológicos na área das comunicações, o sistema de telecomunicações da Marinha Portuguesa está a ser reformulado, através de um projeto NATO, que permite uma otimização, quer em termos de espaço necessário para a instalação de antenas e equipamentos, quer em termos humanos, tendo sido necessário redimensionar todo o sistema, de forma a implementar uma nova estrutura.
Refere a resposta do Ministro que "(...)após vários estudos em que foram consideradas diversas variáveis técnicas, financeiras e humanas, concluiu-se que a solução que apresentaria maiores vantagens era a instalação da estação Rádionaval dos Açores na ilha de São Miguel.".
Não é a primeira vez que me debruço sobre este assunto. Esta é uma matéria importante para a nossa ilha. No decorrer da campanha eleitoral para as últimas eleições legislativas nacionais, os candidatos do PSD-Açores estiveram no Faial, comprometendo-se com os faialenses, afirmando mesmo que tudo iam fazer para que a situação que envolvia a Rádio-Naval fosse alterada num futuro governo do PSD de Passos Coelho. Os faialenses sabem agora que tudo o que os deputados eleitos pelo PSD-Açores à Assembleia da República conseguiram fazer foi perguntar a um Ministro, da sua própria cor política, o que aconteceria à Rádio-Naval.
São estes todos os esforços que conseguem junto dum governo do seu próprio partido? Uma pergunta?
Prometeram aos faialenses algo que sabiam, à partida, não conseguir cumprir e agora apenas sabem pôr a culpa desta situação no Governo Regional, como se esta fosse uma decisão da Região. Todos sabemos que estamos no âmbito de competência do Governo da República, e que o Governo Regional mais não fez que tentar manter a Rádio-Naval na Horta, uma vez que, como é sabido, já há vários anos que se pretendia encerrar a mesma, e que, quando colocada a hipótese desta ser transferida para o arquipélago da Madeira, tudo fez para que esta se mantivesse nos Açores.
Quando escrevi sobre esta matéria, na altura que os deputados do PSD dirigiram a sua pergunta ao Ministro da Defesa, já me questionava sobre a eficácia dum requerimento deste tipo. Os Deputados do PSD que prometeram "tudo fazer" para que a situação fosse revista, resolvem apenas perguntar ao Ministro qual seria o desenrolar da situação! Esperávamos mais de quem foi eleito para representar o seu povo.
Estes deputados, e este PSD-Açores, prestam-se, uma vez mais, e tal como no caso do Aeroporto da Horta, a um abaixar de cabeça e ao seguidismo ao seu partido da República. O que pode a líder do PSD-Açores junto dos seus companheiros na República? A resposta é simples: nada! E tanto não pode nada que não conseguiu cumprir o que andaram os seus candidatos a prometer aos faialenses em campanha eleitoral.
Verifiquei ainda, com alguma apreensão, que na resposta do Ministro não é feita qualquer referência ao fato da ilha do Faial ir integrar a rede de estações radionavais da NATO, através da sediação na Horta do sistema VTS (Vessel Trafic Service) Costeiro do Arquipélago dos Açores, gerido pelo IPTM (Instituto Português de Transportes Marítimos).
Deve haver seriedade na política. Vivemos numa altura em que as pessoas não querem promessas, querem fatos, querem a verdade. Querem ver o início dos estudos e dos projetos, querem ver o início das obras e das medidas. Já referi anteriormente nestes meus escritos, que certas formas de fazer política, certos comportamentos de alguns políticos, muitas vezes atacando pessoas e não ideias, são atitudes que repudio veementemente. Vimos nas últimas legislativas nacionais até onde vão determinadas forças políticas locais, agora nas regionais, temo que esses comportamentos se revelem mais baixos ainda. A recente utilização de palavra "acéfalos" para descrever grupos de pessoas com ideias contrárias, demonstra bem o respeito que certas pessoas têm pelos princípios mais básicos da democracia!
Em 8 meses estes Deputados da República, depois de várias promessas em campanha eleitoral, já conseguiram obter um não taxativo do Governo do PSD, quanto  ao aeroporto e à Radio-Naval. Se continuarem assim, se calhar o melhor para todos é ficarem quietos.

Horta, 20 de Fevereiro de 2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Empreendedorismo

                                                   (Artigo Tribuna das Ilhas - 10/02/2012)

Ouvimos falar neste conceito frequentemente. O empreendedorismo pode ser descrito como a atitude de quem, por iniciativa própria, realiza acções ou idealiza novos métodos, com o objectivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer actividades de organização e administração.
A gravíssima crise que atravessamos não se poderá resolver apenas à custa da imposição de medidas gravosas aos cidadãos, mas principalmente através de medidas que incentivem o crescimento económico.
A atual crise internacional, com os efeitos que a mesma tem tido ao nível do emprego, faz com que a aposta no empreendedorismo assuma hoje uma importância crucial. Os próprios cidadãos, principalmente os mais jovens, começam a ter noção dessa realidade e, impregnados duma certa cultura de risco, que perceberam ter de fazer parte do nosso dia-a-dia atualmente, lançam mãos à obra e criam o seu próprio emprego, com base numa dinâmica assente na criatividade, na inovação e no conhecimento.
Acredito que se gera mais emprego, dando oportunidades às populações de criarem o seu próprio emprego. Por isso, o empreendedorismo é uma matéria essencial. Devem ser ministrados conceitos de empreendedorismo aos nossos jovens desde a idade escolar, para os mesmos serem capazes de criar  novos negócios ou de desenvolver novas oportunidades em  organizações já existentes, agindo sobretudo em ambientes  de forte competitividade e constante mudança.
Só assim crescerão com a vontade de concretizar projectos, muitas das vezes extremamente interessantes e rentáveis, para o tecido económico regional.
A noção de empreendedorismo gira à volta de três ideias fulcrais: oportunidade, risco e recompensa.
Devem ser promovidas estratégias de transição para a vida ativa sobretudo junto daqueles que apresentam um percurso escolar menos próximo do tecido empresarial, com o objectivo de fazer com que os jovens cheguem ao mundo do trabalho com o máximo de possibilidades de emprego, com capacidades próprias, ativas, de encontrar emprego, ou seja, dotá-los de uma maior empregabilidade, potenciando um melhor conhecimento do tecido empresarial.
Realço a importância que assumem os programas de valorização de adultos com poucas qualificações, dotando-os de competências de forma a conseguir integrá-los no mercado de trabalho e também os programas de estágio para os jovens, que assumem uma importância fulcral nos nossos dias.
Nesta linha, foi recentemente apresentado na nossa ilha, o programa "Formar para integrar", destinado a beneficiários do rendimento social de inserção, e que tem como objetivo a formação dos mesmos a fim de conseguirem criar o seu próprio emprego e torná-los mais competitivos no mercado de trabalho.
Temos também o caso do "Faial Pleno Emprego", um programa inédito na Região que, com a colaboração de diversas entidades, contribui para a criação de emprego sustentável, promovendo a criação de novos empresários agrícolas e o crescimento da produção agrícola local, reforçando assim a autossuficiência alimentar da nossa Ilha.
No Faial existem vários exemplos de pessoas com visão empreendedora, nomeadamente jovens, com projetos interessantíssimos e com capacidade de gerar retorno económico. Podemos dizer que, apesar da grave crise que atravessamos, o empreendedorismo jovem está bem vivo na ilha do Faial. Referimos, entre muitos outros exemplos, os recentes investimentos privados realizados nas áreas da saúde, estética e atividade física, em empresas do setor alimentar, em empresas de turismo e desporto na natureza, de diversão noturna e em novas atividades marítimo-turísticas.
Congratulo-me com o facto de haver pessoas que acreditam na nossa terra e que apostam na mesma. Aproveito para fazer um apelo aos jovens açorianos que estão a estudar noutras paragens que tenham a coragem e a ambição, tendo obviamente o apoio necessário, para regressarem, com novas ideias e projetos, e não sigam o conselho de alguns que como solução pouco mais têm para apresentar que a porta da emigração!

Horta, 7 de Fevereiro de 2012