Artigo
Tribuna das Ilha (13/09/2013)
Chegou mais
uma vez a altura do ano em que os estudantes sabem se entraram no ensino
superior. No Faial, como muitos sabemos, a tão aguardada entrada na
Universidade, significa simultaneamente a separação dos nossos entes queridos e
da nossa terra. Por isso, o “sim” da colocação, traz um certo sabor agridoce.
Traz o doce sabor da realização de mais uma etapa concluída, os ensejos do
início de uma nova vida, mas também o sabor amargo de uma rutura com aquilo
que, para muitos, foi a sua única realidade até então.
Este ano
concorreram na 1.ª fase do concurso ao ensino superior menos 5.000 alunos que
no ano passado, tendo sido este o valor mais baixo registado na última década. Nos
últimos 3 anos as universidades, e o ensino em geral, ou seja, o futuro do
País, têm sido alvo de desinvestimento e todas as universidades portuguesas sofrerão
mais um corte no seu orçamento do próximo ano, mas ainda não conhecem qual será
o montante desse corte, o que as deixa sem saber como poderão gerir o seu
futuro próximo, como por exemplo o simples início do ano letivo.
No que toca
à Universidade dos Açores, o seu Reitor já veio afirmar que a mesma se encontra
em situação de “colapso”, com sérias dificuldades para o início do novo ano
letivo. A nossa realidade arquipelágica e o facto de assentar na tripolaridade,
faz com que a Universidade dos Açores tenha custos acrescidos de funcionamento,
o que não é levado em linha de conta pelos cortes cegos que a República tem vindo
a impor a esta instituição. O não cumprimento dos apoios da República já levou
a que o Governo Regional tomasse a decisão de reforçar o montante previsto em
2013 no plano anual de investimentos para a Universidade dos Açores (de 350 mil
euros) em mais 371 mil euros, reconhecendo assim a sua importância no
desenvolvimento equilibrado da nossa Região.
Ainda nestas
matérias da educação, o Ministro Nuno Crato, veio trazer a público a decisão do
Governo da República de apoiar a escola privada, através de um “contrato simples de apoio à família”, que abre a possibilidade de financiamento direto aos alunos de
colégios privados, sem que nenhuma carência de oferta de escola pública
justifique este apoio, e em que todos, financeiramente carenciados ou não,
podem usufruir do mesmo (apesar de supostamente em diferentes escalões).
O apoio às escolas privadas significa ao mesmo tempo um
claro desinvestimento na escola pública, porque se não há aumento de despesa, como
afirma o Governo, então esse apoio ao privado será necessariamente financiado
com a retirada de verbas ao setor público. Menos investimento na escola pública
trará inevitavelmente uma pior escola pública, com menos condições para
oferecer aos seus alunos e professores. Ficaremos assim perante uma escola
pública com menor qualidade de ensino, por oposição a uma escola privada, com
melhores professores e melhores condições, para os que possuem determinado estatuto,
seja ele social ou económico, aumentando as desigualdades sociais.
A escola pública é um fator de igualdade de oportunidades.
Só dando condições iguais a todos os cidadãos se pode construir um futuro mais
justo e equilibrado. Diminuir os apoios à escola pública, com a política de
cortes imposta, mas reforçar os apoios públicos às escolas privadas, é um bom
exemplo da marcada ideologia neoliberal do Governo da República, que condeno
veementemente.
Horta, 10 de setembro de 2013
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